quarta-feira, 30 de outubro de 2013

30-10-13

Sai na rua para comprar pão e me encontrei com nós dois. Estávamos de mãos-dadas como sempre e pelo teu silêncio e minha cara, havíamos acabado de brigar. Bastava olhar de longe para sentir a tensão - e o tesão - entre nós dois. Bateu saudade.

Saudade da tua pele, do teu cheiro, do teu gosto. Saudade dos beijos, do carinho e do sexo. Saudade até do teu cigarro, da minha alergia e da nossa poesia.

Mais tarde precisei ir à farmácia e nos vi mais uma vez. Estávamos comprando camisinhas; nos olhávamos com pressa. Quis chegar perto, mas não queria, de forma alguma, interromper o nosso momento. Senti dor.

Dor na garganta com o embaraço que as lágrimas faziam. Dor nos olhos que queriam cegar diante de nós. Dor no peito que comportava um coração acelerado. 

Corri para casa e encontrei conosco no elevador, no corredor, no quarto... Gritávamos, chorávamos, nos amávamos. Tentei fugir e nos vi na porta. Você me olhava, eu chorava e continuava repetindo que fosse embora. Tentei gritar, não tinha voz. E você foi descendo as escadas desde o décimo andar para não esperar o elevador. Senti esvaziar.

Meus olhos esvaziaram a garganta. Minha garganta esvaziou o grito. Meu grito esvaziou a dor. A casa, o corpo, a vida se esvaziaram de você. Eu não; Corri pelas escadas, te encontrei  e me deixei aqui.

Lembrei da farmácia, dos remédios, da hora. Esqueci as sacolas. Preciso voltar.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Deixe que siga

Percebe que não tem nada que te prende. Essas mãos que você sente te segurando e puxando para baixo são as suas próprias mãos. Disseram que o tempo ia passar e curar toda essa dor. Era mentira. Não importa quantas vezes o sol se pôs, você está presa no seu tempo. Não é passado, porque você não deixa que passe. Seu tempo não quer seguir. Deixe que siga.

Os anos foram chegando em velocidade cada vez maior e você não acreditava que ele resistiria aos invernos. É que ele já foi embora há tanto tempo... Você insiste em mantê-lo presente como se só esta imagem desse conta da vida. E você diz que é fácil falar. Difícil mesmo é te ver sofrer assim. Com esse sorriso congelado no rosto que não expressa nada mais do que um descompasso com o mundo aí fora. Presa no mesmo lugar; estanque. Deixe que flua.

Não há lamento, novo amor, nem Cronos que leve ele daqui. Sorria o seu melhor sorriso; aquele brilho nos olhos como quando você olhava pra ele num domingo a tarde e o sol se punha deixando tudo laranja. Se veste daquela sensação de paz e retoma seus passos. Diga adeus e leve-o até a porta. Ele já foi, agora você é quem precisa deixá-lo ir. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

É não e é sim, tudo junto

Entende? Como eu te disse: é não e é sim, tudo junto. Não é confuso, não é esquisito, é só paradoxal. E a vida é outra coisa além de um constante paradoxo? É que nem sempre dá para juntar todas as partes e resultar em arrumação. Às vezes é bagunça mesmo e eu estou completamente bagunçada de você, dessa dor, desse não-talvez-quem sabe. Desalinho e eu não gosto de linhas. Não gosto dessa reta chata e monótona que você tenta enquadrar nós dois. Porque eu não sou quadrada, não sou formal e não sou fácil. E você não me entende, já sei. E que se dane o entendimento, porque eu não tou falando de explicação e de adequação. É curva, desvio e foi e sumiu.

E eu não quero falar sobre isso, não quero usar metáforas e nem me fazer entender. Quero quando quero e quando não quero não quero e não tenta ler algo além do que tá escrito. Não me teoriza que eu não sou ordenada, não sou coerente e nem generalizável. Não me pede pra me encaixar na sua história, pra agir como seus personagens, pra fazer sentido. Só me encaixo nos seus braços vez ou outra e isso não significa mais do que dois corpos juntos e sintonizados. A frequência muda e não existe tudo igual, sempre igual, mais do mesmo.

Aquilo que você vê é apenas uma interpretação de tudo aquilo que posso ser. E tentar me interpretar com base nas histórias que você ouviu, viveu, pensou vai dar tão certo quanto achar que eu estarei aqui amanhã com a mesma forma que você me viu hoje. É que talvez amanhã eu queira mais do que isso que você me dá, ou seja menos do que você espera. E talvez a gente sintonize de novo e siga tocando juntos que nem aquela música que cantávamos nas tardes de segunda-feira quando tudo era calmo e a gente não precisava disso. Não precisava de explicação, de sentido, de definição.

Quando você não era tão chato, tão certinho, tão preocupado, tão sexy. E quando 1 + 1 podia ser 3 e ninguém se importava, porque matemática nunca foi meu forte e ainda bem que você tava lá. Eu não mudei, só sou outra. E um dos seus maiores erros é achar que dá pra saber o que estou sentindo/pensando/sendo baseado naquela visão que você construiu há tantos anos atrás quando o mundo era mais cor-de-rosa e eu era só uma romântica boba esperando príncipe no cavalo branco. É que depois que eu cai do cavalo de cara no chão, montar e seguir galopando não era mais tão fácil. E eu aprendi que o príncipe é chato e que prefiro o sapo, ou o cavalo preto, ou você quando não me pergunta o que quero.

Então não, não acho que você é meu príncipe encantando; não acredito mais no amor. Acredito no amar. E amar não é estanque e nem se prende ao tempo. É ação infinitiva que não se quer infinita e que acaba, muda, transforma, desforma. E quando sai da forma torna-se uma força potente que arrasta e leva tudo que está rondando por aí sem raízes. E me arrasta direto pra sua cama, pros seus braços, pro até logo está tarde preciso ir embora. 

domingo, 13 de outubro de 2013

Cansei

Eu cansei das mensagens não respondidas, das chamadas não atendidas, das noites mal dormidas. Eu cansei de quase, talvez, amanhã, melhor não. Cansei dos seus amigos, do seu cigarro, do seu beijo. Dessas meias palavras não ditas, da comida que está quase fria, da espera por uma volta do relógio que eu não sei qual. Cansei dos seus vícios, dos seus olhos e do seu carinho.

Cansei desse já estou indo não vou mais me espera que estou chegando dessa falta de vírgulas que me deixa sem tempo para respirar no meio dessa turbulência que é a sua presença ausente. E, cansei, das, pausas, que, você, faz, entre, o, vir, e, o, não, vir, enquanto, eu, te, espero.

Cansei do seu cansaço porque trabalhou muito durante a semana e da sua disposição que te tira da cama antes mesmo que o sol possa nascer. Cansei do só amigos e do pode deixar que eu te ligo. Cansei de estar cansada, do que me cansa e de só pensar em você.

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