domingo, 2 de dezembro de 2012

Wouldn't it be nice

A nossa música tocou no rádio. O coração disparou e fez-se um nó na garganta. "Não chore, não chore, seja forte", pensei comigo e tentei engolir a dor. Muito tempo já passou (e passou rápido demais) para se permitir chorar por isso.

Quando me perguntam sobre você, eu rio. Digo que é passado, já não me lembro mais. Se tentam me contar uma novidade, finjo não me importar. Quando te vejo com seu novo amor, convenço a todos - e a mim - que não ligo. Mas quando toca a nossa música... Eu prendo o choro, conto até mil e disfarço. As palavras cantadas falando de um amor sincero. Por que mesmo que essa era a nossa música? Lembro-me muito bem o dia em que você me deu ela de presente.

Deitados na cama, abraçados, seus dedos desenhavam o contorno do meu rosto. Meu ouvido escutava as batidas do seu coração. Ouvíamos música, como de costume. "Meu amor, essa é para você", você disse. "Pra mim? Por que?", respondi. Você suspirou e me beijou. Deixou que a música falasse por você, e ela falou. Depois daquele dia toda vez que ouvia, meu coração se enchia de alegria. Inúmeras vezes recebi sua ligação "ouvi nossa música, lembrei de você". Os amigos diziam "está tocando a música de vocês?". 

Você decidiu ir embora. Recolhi o porta-retrato que revelava o seu olhar sincero. Queimei, uma a uma, as cartas que continham as mais belas palavras. Mudei os móveis de lugar, troquei o perfume. Tudo que pudesse facilitar o seu esquecimento, acabar com a tua lembrança, confortar meu peito, livrar-me da dor.

Estava tudo bem... até tocar a nossa música.

domingo, 25 de novembro de 2012

Amor à distância

Teu olhar. Teu beijo. Teu gosto. 

As cores vibrantes que rodeiam nós dois. As gargalhadas que damos juntos. O olhar penetrante que só você tem.

Amar-te. Cada segundo como se fosse o último. Aproveitar a vida bela que tenho ao teu lado. Querer mais e sempre mais. Pois são teus braços que me dão o melhor abraço. E teus lábios que me beijam com ternura única.

O escudo que você representa: afasta as mágoas, os pesadelos, os medos. Sentir-me protegida. Encontrar em você tudo aquilo que sempre procurei e, melhor ainda, aquilo que nunca pensei existir. Sentir-me mais do que completa, sentir-me adicionada.

Com você os pássaros cantam uma melodia suave e o vento passa devagar arrepiando a alma. O sol aquece sem queimar e as nuvens esquecem de aparecer. O perfume das flores: ao seu lado é sempre primavera.

Beijar como se fosse o fim. Abraçar apertado para continuar sentindo teu corpo até você retornar. Não me permitir acostumar com o cinza, com o vendaval, com a chuva. Tempo e espaço se unem para tentar destruir o que de mais belo existe neste nosso mundo.

Meu amor resiste: não é material e não se degrada. Cada lágrima que escorre liberta a dor do peito permitindo que reste apenas a alegria. Saudade: preenchendo meu ser enquanto você se faz ausente. 

Peço ao tempo que passe rápido. Respiro fundo e espero a hora certa. Sigo com calma e com a certeza, que me consola, de que você vai voltar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Felicidade

E aí você vem e me sorri um sorriso tímido. Suspira e me olha nos olhos. Veste somente minha camisa e deita no meu peito. Faz cachos nos meus cabelos com as pontas de seus dedos. Encosta os teus lábios nos meus com delicadeza. E dorme comigo.

Quando você se vai e me deixa na torturante companhia da sua ausência. E cada música que me lembra teu rosto. O cheiro da chuva que me lembra teu gosto. O tic-tac do relógio que palpita meu coração.

Caminha em minha direção e me deixa ansioso. E sua respiração no meu pescoço me arrepia dos pés à cabeça. E se encaixa no meu abraço como se tivesse sido feita sob medida. E seguimos na mesma melodia.

O seu coração que bate junto com o meu. O seu corpo que aquece o meu lençol. Seus ruídos que compõe músicas para o meu silêncio. Suas expressões marcantes que pintam meu retrato.

Seu amor.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Assassinato

Respiração ofegante. Mãos ensanguentadas que ainda seguravam a arma do crime. Meus olhos arregalados puderam perceber a crueldade que havia cometido. O corpo ainda estava quente e o sangue molhado. Os seus olhos permaneciam abertos e voltados em minha direção. O olhar continuava o mesmo de quando havia vida: gelado. Sempre me incomodei com a maneira fria como você me olhava. Agora posso dizer que seu olhar parece muito melhor encaixado neste corpo frio e sem vida. 

Eu não queria que tivesse terminado assim. Por inúmeras vezes tentei te alertar que nada estava bom do jeito que estava. Você esboçava um sorriso no canto da boca - exatamente igual ao que seu cadáver guarda - e dizia que eu me preocupava demais. Não era com indiferença que você me tratava? O destino gélido de seu corpo me parece bem adequado.

Nunca havia tempo para conversar. Você não se importava o suficiente para falar e insistia em demonstrar a tortura que era me ouvir. Este corpo imóvel que me fita escutará absolutamente tudo que tenho para dizer sem fazer reclamação alguma. O jogo virou e agora sou eu quem dá as cartas.

Vivíamos uma vida banal. Perdi a conta de quantas vezes tentei te mostrar o caminho sem volta que estávamos seguindo. Você nunca pareceu tentar, de fato, quebrar a rotina monótona que nos envolvia. O que pode ser mais monótono do que a morte? Seu corpo agora viverá da maneira exata como você queria me fazer viver. A morte lhe cai bem.

Eu me entrego e confesso: eu matei. Matei para renascer. Matei e mataria de novo, quantas vezes fosse preciso. Há tempo que eu não sentia o calor do seu corpo, o aconchego do seu olhar, o timbre da sua voz. Por isso, lhe dei a única coisa que ainda podia: uma facada certeira para colocar fim ao nosso sofrimento. Eu matei. 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

(des)(re)encontrar(-se)

Se nossas vidas são caminhos, pré-determinados ou não, hei de dizer que existem cruzamentos, esquinas, vias retas e opostas: encontros, reencontros e desencontros.

Vias paralelas podem se cruzar e permitir que algo surja. Não precisamos estar prestando atenção, nem ficar ansiosos, para que o encontro possa ocorrer; deparar-se. O mais belo do encontro é a surpresa de achar aquilo que não se procura.

Olhar nos olhos e encontrar. Através da janela d'alma do outro, perceber-se. Descobrir traços em comum; traços diferentes e complementares; ideias nunca pensadas. Reconhecê-lo e reconhecer-se. 

Vem tempo, vai tempo. Tudo passa, nada muda. Até que, em algum caminho, reencontra-se; encontra-se novamente; torna-se a encontrar. E aquele que parecia não mais existir, aparece como da primeira vez. Há de se perceber a importância do reencontro. Parar de esperar por novos encontros e procurar aquilo que está/já esteve presente.

Fechar os olhos e reencontrar-se. Através do autoconhecimento, resgatar tudo aquilo que parecia esquecido, apesar de parecer importante. Perceber, nas relações, que as semelhanças existem e as diferenças são capazes de construir. Ir de encontro a; procurar por.

Desencontrar. Através da percepção da impossibilidade de desenvolver um (re)encontro, procurar direções opostas. Por ter encontrado-se, impedir o encontro com. 

Olhar em volta e desviar. Seguir caminhos diferentes. Atravessar o cruzamento; não parar na esquina. Desencontrar para poder encontrar. Fugir do encontro marcado, do provável, do caminho acostumado e buscar o inesperado, o súbito, o oculto. Seguir a via de olhos fechados e surpreender-se com o novo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Ao cara estranho

Caro estranho,

Você não é totalmente estranho, pois sei seu nome, sua profissão, seu time e, até, alguns de seus passos. Só que eu queria saber mais, entende? Eu queria saber qual é a sua cor preferida, seus planos pro futuro, suas ideias mais sem sentido. Adoraria saber se você acorda de mal humor ou não, se você gosta de dormir com os pés para dentro ou pra fora da coberta, se toma café preto ou leite com chocolate. 

Queria saber como foi o seu primeiro dia de aula no maternal, ver as fotos constrangedoras que sua mãe tem para me mostrar. Ouvir suas histórias de criança, de adolescência e compartilhar histórias da sua vida adulta. Você prefere viajar para um lugar de praia ou para o friozinho da montanha? O que é que você pensa sobre a pena de morte? E sobre a legalização do aborto? Posso provar o gosto do seu beijo?

Eu queria te contar as minhas histórias mais sem pé nem cabeça. Também queria te mostrar que, apesar de você só conhecer meu lado bobo, parte de mim tem boas ideias, pensamentos criativos e inteligentes. Gostaria de dividir com você os meus planos pro futuro e te mostrar, na prática, que eu acordo de mal humor.

Se eu pudesse, eu te mostraria o meu melhor lado. Você poderia conhecer minhas melhores características e relevar os muitos defeitos. Se eu não fosse tão atrapalhada com as palavras, se não ficasse tão nervosa diante da sua presença, se eu não me sentisse tão boba em te mostrar o que penso... você leria essa carta.

Por enquanto, conto com a minha imaginação para conhecer você melhor. Quem sabe um dia você não percebe que por trás de todas essas brincadeiras vazias, desse meu jeito superficial e desse desprezo aparente, eu sinto falta de saber quem você é. Até lá, permanecemos assim: estranhos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Muito pouco

Gritos, exaltação, lágrimas, sexo. Lembra como costumávamos brigar? Éramos capazes das palavras mais agressivas, das lágrimas mais profundas e do sexo mais selvagem. Éramos dois, tentando ir à algum lugar, ou à lugar algum. Mas éramos dois. Intensidade, essa era a palavra. Todos os nossos adjetivos vinham acompanhados do "muito". Nos queríamos demais.

O meu peito se tornou um lugar pequeno. Não havia mais espaço para tudo que eu sentia. Eu queria que fossemos perfeitos e que fossemos para sempre. Demorou para perceber que perfeição e eternidade só existem em um plano ideal. Eu tentava te moldar, você tentava me mudar. E ninguém sabia lidar com toda aquela intensidade.

Ai um dia as lágrimas diminuíram, os gritos abaixaram, as brigas tornaram-se escassas. O muito virou pouco e ficou raro. Toda crítica começou a vir acompanhada de uma promessa de mudança. Toda reclamação passou a trazer um pedido de desculpas. Nos harmonizamos? Há quem pense que sim. Eu acho que nos acostumamos.

Naquele momento em que percebemos que o pra sempre acaba e que a perfeição é imperfeita, paramos de esperar. Resolvemos aceitar as coisas como elas eram. E a exaltação virou calmaria. E o futuro virou o presente. Tudo igual.

Bonito seria se disséssemos que resolvemos aceitar o outro como ele é e que felizes passamos a ser. Porém eu sei e você também, que antes de dormir, depois de um sexo cansado e a luz apagada, pensávamos como queríamos que tudo fosse diferente. E engana-se quem pensa que isso trazia sofrimento. Estava tudo bem.

Ainda haveria salvação? Para nós não, devo dizer. Nos acostumamos demais para viver uma paixão. Cansamos demais para sofrer. E o único muito que nos restou, complementava o pouco. Não há culpados, porém. Não conseguimos culpar nem a um, nem ao outro e nem a si: assim acabaram as acusações. 

O que nos mantinha juntos era a foto no porta-retrato, a música que tocava, as marcas dos objetos nas paredes, a poltrona que quebramos... as lembranças do que costumávamos a ser. Um dia você resolveu ir embora. E por mais que nós dois soubéssemos que era melhor assim, nunca poderei esquecer da dor e do sentimento de impotência quando você apareceu de malas prontas e notícia dada.

Gritos, exaltação, lágrimas, sexo. Foi só quando você abandonou o barco que nós dois pudemos sentir o último suspiro daquilo que chamávamos amor. O peito tornou-se pequeno novamente e o pouco virou muito. E restou saudade. Muita saudade... de um tempo que não volta mais; de um mundo que era só nosso; do muito pouco que restou.

sábado, 13 de outubro de 2012

Uma forma de amar

Eu saí correndo. Não me preocupei em recolher os objetos e nem em dar satisfações. Eu corri para bem longe. Não sabia para onde ia, só sabia que precisava fugir. Não olhei para trás nenhuma vez, eu juro. Não podia voltar, nem se eu quisesse.

Disseram-me que eu fiz um estrago. Chegaram a me falar que você estava sangrando e que não sabiam se iria se recuperar. Eu não quis conferir. Voltar e ver todas as feridas que causei, acabaria comigo. Você acreditaria se eu dissesse que fiz isso por amor?

Há pouco tempo atrás recebi notícias suas. Ouvi falar que você estava bem. Parece que você sumiu com todos os objetos e inventou motivos para entender o que eu fiz. Algumas pessoas ajudaram a limpar toda a bagunça que deixei e você se recompôs. 

Por que é que depois de tanto tempo eu ainda me importo? Eu fugi para bem longe achando que deixaria tudo para trás. Deveria ter escutado minha mãe que dizia "não adianta fugir, seus problemas sempre vão com você". Será que fui covarde?

Já pensei diversas vezes em aparecer na porta da sua casa para te pedir desculpas. Será que você me perdoaria? Eu tenho receio de que você bata a porta na minha cara... eu bateria. Acho que o verdadeiro perdão que eu preciso vem de mim mesmo.

Eu tinha que partir, tente entender. Quanto mais o tempo passava, mais eu percebia o buraco sem fundo que nós estávamos nos metendo. Tentei sair antes que não fosse mais possível. Eu senti dor. Não ache, por favor, que só você sangrou. A tristeza dominou cada pedaço do meu corpo.

Olha pra hoje. Não foi melhor assim? Há vezes em que desistir é a melhor maneira de tentar outra vez. E sim, pode acreditar, tudo que fiz foi por amor. Amor próprio. Amor perdido e, há tempo, recuperado.

sábado, 6 de outubro de 2012

Desacostumar-se

"Tenho medo", ele disse. E saiu andando e esforçando-se para não olhar para trás. Desceu a rua, virou à direita. Caminhou em direção a praia. Parou por segundos e olhou o mar de longe. Viu a linda lua que refletia nas calmas águas do oceano. Conteve na garganta a dor que queria se esvair pelos olhos. Respirou fundo e não seguiu em frente. Virou à esquerda e entrou em casa.

"Tenho medo", ela ouviu. E ficou paralisada enquanto via ele caminhar sem olhar para trás. Quando ele virou à direita, ela chorou. Quis gritar, se conteve. Sentou no meio fio e expurgou toda a dor que sentia pelos olhos. Levantou-se e resolveu não seguir o seu caminho acostumado. Tirou mais do que segundos para olhar a lua que refletia no mar. 

"Tenho medo", ela pensou. Olhou a imensidão que é o mundo e sentiu-se sozinha. Queria jogar-se nas ondas e inteirar-se ao mar. Queria sentir-se maior do que o medo que instalava-se em seu peito. Queria libertar-se de seus sentimentos com a esperança de que, assim, pudesse não mais chorar. 

Ele abriu a porta de casa e olhou ao seu redor. Era hora de fazer as malas e partir. Enquanto resolvia suas questões práticas e empacotava suas roupas, sentia seu coração gritar e implorar para que o medo fosse embora. Olhou uma foto dela e sentiu-se sozinho. Respirou fundo. Queria aprisionar-se em seus sentimentos com a esperança de que, assim, pudesse ficar.

A lua iluminava as águas e a chamava para um mergulho. Tirou suas sandálias e andou em direção aquilo que desejava como seu destino; em direção ao mar; em direção única: para frente. Mergulhou, mesmo com frio, sem olhar para trás.

Ele olhou da janela e viu, mais uma vez, a lua. Sentiu novamente um nó na garganta e as lágrimas que lhe imploravam liberdade. Abriu a porta, desceu as escadas, virou a direita e seguiu em frente. Enfiou os pés na areia e sentiu os milhares de grãos tocando sua pele. Sentiu vontade de tornar-se um grão e unir-se aos outros. Deitou e fechou os olhos.

Gotas salgadas escorriam de seus olhos. Gotas salgadas pingavam em sua pele. Abraçou aquele corpo e esqueceu-se do medo. Um beijo uniu lágrimas e água do mar; homem e mulher; medo e coragem. Levantaram juntos, deram as mãos, viraram de costas para o mar e seguiram para trás. 

domingo, 30 de setembro de 2012

Silêncio

Quando eu não tiver mais o que falar, te darei o meu silêncio. Eu te peço, por favor, contenha-se com ele. Nem só de palavras vive o homem. Há muito mais nas entrelinhas, do que nas linhas de fato. Não é porque faltam-me palavras, que não tenho o que dizer. Às vezes, meu olhar fala mais. Por outras, podes saber o que penso, ouvindo, apenas, as batidas do meu coração.

Quando eu não tiver mais o que falar, ouça. Ouça com um pouco mais de atenção as palavras que não me saem pela boca, mas latejam em minha mente e apertam o meu peito. A ausência de sons audíveis e compreensíveis não é a indiferença.

Quando eu não tiver mais o que falar, perceba. Perceba que me calo, porque me importo. Não quero que ouças palavras vazias. Não quero definir e reduzir a plenitude das coisas que se passam dentro de mim. Não quero limitar essa mistura de sensações, sentimentos e pensamentos a meras palavras.

Quando eu não tiver mais o que falar, fique em silêncio comigo. Acompanha-me, toca-me, una-se a mim. Apenas sinta. Sinta o que penso, o que sinto, o que quero. Seja um pouco de mim.

sábado, 29 de setembro de 2012

Ama-te

A todos aqueles que passam a vida inteira procurando por um grande amor, digo, ama-te. Desiste de procurar nos outros alguém como você e abraça a ti mesmo. Aprecia tudo aquilo que só quem te conhece mais pode te dar. Alegra-te pela tua própria companhia. Encanta-te com teu sorriso. Agrade teu verdadeiro e eterno companheiro. Há de se parar de procurar no exterior tudo que só se pode encontrar dentro de si mesmo. Fique só, mas fique consigo. O amor ao outro só poderá ocorrer, de fato, quando o amor próprio for pleno.  Respire teu ar, sacie teu desejo, precise de ti. Só assim, poderás amar plenamente o outro como ele é.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Resgatar

Era tão bonito. Era tão certo. Fazia bem. Alegrava o dia. Completava a noite. Ai, acabou. Ai, virou lembrança. Ai, virou uma história distante que quase não é lembrada. Acho injusto que os grandes amores passem e virem apenas uma pequena recordação. As histórias de amor deveriam ser lembradas todos os dias.

Você ainda se lembra quando eu e você éramos um só? Quando vivíamos em prol de um sorriso? Daquele tempo, remoto, eu sei, em que nos amávamos a noite inteira sem nem perceber que o dia amanhecia? Confesso que eu quase não me recordo mais.

Será que as únicas histórias de amor memoráveis são aquelas, como Romeu e Julieta, em que há uma tragédia no final? E se o final for, simplesmente, leve como o amor? Se não for arrebatador como uma paixão, como um romance Shakespeariano...? Não devemos relembrar com lágrimas nos olhos aquele tempo de felicidade?

Pois bem, quero tirar o dia para dizer ao mundo inteiro que, um dia, nós fomos felizes. E, se eu fechar bem os olhos e ouvir a nossa música, eu ainda sinto aquele gostinho de amor que pairava sobre nós. Eu quero que esse e que todos os amores que, um dia, foram reais, sejam recordados.

Relembremo-nos dos bons tempos. Não com pesar do fim, sentimento nostálgico ou com saudade. Apenas relembremos. Somente pensemos que um dia existiu. Resgatemos as lembranças mais lindas que restaram de uma época que não mais voltará. E fiquemos felizes por terem acontecido. E contemos aos amigos, aos parentes e, quem sabe, aos novos amantes, como, um dia, nossas vidas se encontraram.

Às vezes a vida parece ser recheada de outras vidas. As pessoas, os lugares, os sentimentos, nascem, vivem e morrem dentro de nós. Depois deixamos essas histórias esquecidas como se não as tivéssemos vivido. De fato, as mudanças são grandes e não há de se viver do passado. Porém, acho importante pensar que éramos nós. Éramos nós que estávamos ali. 

Vivamos, sim, cada novidade. Pensemos, sim, no futuro. Mas, sim, quero que saibas que, vez ou outra, eu me lembro bem que, aquilo, era amor.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sobre o viver

Há de se desiludir
Para assim perceber
Que sonhos nunca são melhores do que a realidade.
Pois, por mais bonitos que possam ser,
Não são reais.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Jardinagem

Um dia, inesperadamente, encontrei uma semente. Andava na rua e aquilo me chamou atenção. Uma semente perdida no meio urbano, ela não parecia pertencer àquele lugar. Não se assemelhava em nada com aquela paisagem fria, apressada e suja das ruas desta metrópole. Por um impulso, resolvi pegá-la.

Pensei no destino que teria aquela semente sozinha em um meio estranho. Certamente ela não sobreviveria. Ela não teria a oportunidade de virar flor, fruta, planta, ou seja lá o que ela pudesse se tornar. Eu sabia que agora ela precisava de carinho; de alguém que se importasse com ela; de alguém que a regasse; de alguém que lhe desse tudo, sem pedir nada em troca.

Passei na floricultura mais perto e comprei tudo que eu iria precisar. Um vaso, terra, adubo, pá, regador... confesso que me empolguei bastante com a ideia de plantar aquela semente. Então, fui para casa e plantei. Fiz todo um ritual, conversei com ela, expus minhas expectativas de que viesse a crescer e florescer um dia, mas deixei bem claro que não era pra ter pressa. Ela tinha o seu próprio tempo. 

Eu pensava todos os dias no que ela poderia se tornar. Imaginava lindas flores, saborosas frutas, vistosas plantas. Porém, dentro de mim, sabia que aquela semente poderia continuar ali na terra, inerte, para sempre. Podia ser também que ela crescesse, mas não criasse raízes, então, não duraria tempo algum. 

Todavia, não me parecia justo cobrar que aquela semente se esforçasse para ser o que não era. Assim, resolvi aceitá-la por ser semente e apenas isso. Reguei-a todos os dias. Conversei com ela todas as noites. Dei todo amor e cuidado que ela poderia precisar e ainda mais. 

E o que ela se tornou? Isto não me parece importante. Pois fizemos companhia uma a outra no presente e não no futuro. Aceitamos aquilo que podíamos dar. Respeitamos o tempo e o espaço de cada uma. Independente de flor, fruta ou planta, nós criamos o amor. E todo amor, começa com uma semente.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Apagão

Acabou a luz. Tudo escuro, tudo em silêncio. Era tarde, o mundo estava quieto. Como se não bastasse a quietude, ele ficou escuro. Naquele quarto estava ela acompanhada somente de sua insônia. Há dias que não conseguia dormir e não sabia bem o porquê. Parecia ansiedade, mas sem motivo aparente. Enquanto lia e ouvia suas músicas, a luz apagou-se.

A raiva tomou conta de seu corpo. O que fazer quando não se tem sono, nem luz, nem som? Então, parou. Parou e ouviu. Começou a escutar o som do caminhão de lixo que passava na rua. Ouvia pessoas que passavam de longe e falavam algo incompreensível tamanha distância. Apreciou os sons.

Então, parou. Parou e sentiu. Sentiu o ritmo do seu coração. Percebeu a sua respiração. Sentiu cada parte de seu corpo. Podia sentir um relaxamento que começava na cabeça e ia descendo até os pés. Seu corpo ficava leve cada vez que inspirava o ar e soltava pela boca.

Então, parou. Parou e percebeu. Percebeu que no silêncio, no escuro e com o corpo relaxado, ela podia se perceber. Podia dar conta de seus pensamentos. Ouvir o que dizia seu corpo, e, também sua mente.  Podia sentir a si própria e, assim, compreender-se. 

A luz voltou. Junto com ela, o som voltou a tocar. Olhou ao seu redor e observou todas as cores. Então, parou. Parou e dormiu.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Em Tempo

O tempo não anda pra trás. O tempo anda pra frente, em sua própria velocidade. Às vezes parece que o tempo não faz sentido. Ele vai no ritmo próprio e não se importa se a gente não está acompanhando. "Ô, Seu Tempo, dá pra dar uma desacelerada?"; "Vai um pouquinho mais rápido...". Será que ele não percebe que está descompassado? 

"A pessoa certa, na hora errada"; "a oportunidade certa, no momento errado"; "o tempo certo... e tudo errado". Será que o tempo que se importa pouco com a gente? Ou a gente que se importa demais com o tempo? Têm aqueles que dizem "o tempo está sempre certo"; "as coisas acontecem como tem que acontecer"; "é o destino, tinha que ser assim".

Coitado do tempo. A gente espera demais dele. "O tempo cura tudo". "Deixa o tempo passar". Pois bem, Seu Tempo, eu quero te defender. Você é só o tempo. Você tem seu próprio ritmo. Você não tem que curar nada, não tem que ter pressa e nem voltar pra trás. A gente é que tem que perceber que você passa, que você é decidido. Você têm pra onde ir, e você vai.

Acho que é isso, eu queria ser o tempo. Assim, eu não me importaria com ninguém. Eu iria sempre pra frente. Eu seria relembrado, mas não revivido. Eu nunca estaria atrasado, nem mesmo, adiantado. Ainda é tempo; sempre em tempo; há tempo... Viva o tempo! 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ao meu maior companheiro


Há dias que eu acordo e não quero levantar. Quero passar o dia inteiro ali, grudadinha em você. Quero te abraçar, me enroscar em você... sentir o seu calor. É você, você que me aquece no inverno e que me esquenta ainda mais no verão. Todas as noites, quando vou dormir, penso em você. Já não consigo mais dormir, se não for ao seu lado. 

Quantas vezes você já enxugou minhas lágrimas? Quantas vezes você já foi o meu único companheiro para uma triste tarde, ou para uma noite solitária? Eu só sei que quando te abraço, me sinto bem. Sinto que estou bem acompanhada. Sou capaz de ficar horas e horas enrolada em seu abraço. Quando estamos juntos, nem sinto o tempo passar. É na sua companhia que sonho todos os dias.

Não tem companhia mais calorosa, aconchegante, macia. Você não fala, você me escuta. Você não reclama, me acalma. Hoje eu quero ficar aqui, em seus braços, esquecer do mundo, esquecer de todos. Obrigada por estar sempre comigo, meu cobertor!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Carta para você


Querido,

Acabei de ter um sonho tão real que você não pode imaginar. Acordei suando frio, chorando e não entendi bem o porquê. O sonho era lindo, daqueles que te faz acordar sorrindo. Então, eu pensei bem, pensei no ontem, no hoje e no amanhã. Cheguei a uma conclusão que talvez não seja tão fácil de entender, mas resolvi te deixar e te esquecer. 

Talvez você me ache doida, talvez chore, talvez tenha raiva de mim. Mas eu sei o que estou fazendo e sei que vai ser melhor assim. Vou sentir a sua falta, vou lembrar de você. Mas não vou deixar telefone, endereço, nada que te dê chances de me ver. Vou embora daqui a pouco e não está sendo fácil. Quando você acordar verá que do seu lado não tem mais ninguém, só esta carta que te escrevo com lágrimas nos olhos, com uma letra borrada, com o coração na mão.

Mas sei que um dia você vai perceber que isso não foi bom só para mim, mas para você também. Talvez você se olhe no espelho e se pergunte “por quê?”, mas já vou te avisando que não há nada de errado com você. Não, não tem outro em seu lugar. Sei como você é e sei que nisso você também vai pensar. 

Acontece que aquele sonho... aquele sonho me despertou, me fez ver que não dá mais para ficar com você, amor. Eu percebi que preciso de você. Eu não quero precisar. Eu quero alguém que me adicione e não alguém que me complete. Eu quero mais. Eu quero transbordar. Eu não quero uma tampa para minha panela, não quero a outra metade da laranja. Meio limão, talvez.

Eu cansei de aceitar a rotina. Cansei de relevar as brigas. Cansei de me perder em você. Eu quero ser eu. Eu quero ser livre. Eu quero voar pra bem longe. Será que estou sendo muito infantil? Será que todos os relacionamentos terminam em comodismo? Será que estou procurando um amor de cinema que não existe na vida real?

Será que existem respostas? Eu vou buscá-las... 

Não peço que me entendas. Não peço que me perdoe. Prometo que um dia eu te ligo, mesmo que seja só como um amigo. Prometo que ainda te escrevo, te visito. Um dia ainda te conto que sonho foi esse que me fez partir. 


Um beijo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mas volta logo!

Se você quer ir, vai. Mas não vai agora. Espera o amanhã chegar. Fica mais um pouco. Finge que você não quer mais ir. Vamos fingir que o amanhã não existe. Vamos viver o hoje, o aqui, o agora. Quando chegar amanhã... ai você vai. Mas vai baixinho. Não faz barulho. Não me diz que tá indo. Eu não quero saber quando você foi. Quero acordar e descobrir que aconteceu. Não quero ver. Não quero ouvir. Não quero sentir.

Sempre que você vai, dói tanto. Parece que não sobrou mais nada. Mas quando você volta... meu corpo se enche de ar, de luz, de amor. Quando você volta eu me sinto mais. Eu sinto que sou mais que eu. Sou mais que sou sem você. Nem sempre mais é melhor, mas com você é. Quando você chega baixinho, sem fazer barulho e se enfia na cama... eu sinto os seus pés enroscarem nos meus e eu sei que você chegou. Eu sei que a angústia acabou. Sei que somos quatro pés, quatro mãos, dois corações e um amor.

Por isso, vai sem fazer muito alarde. Não avisa ninguém que você está indo. Deixa todo mundo pensar que você vai voltar. Deixa que eu pense assim. Eu vou me ver sozinha, mas vou fechar os olhos e vou pensar em você aqui. Vou sentir toda aquela matemática do mais e vou ficar feliz.

Não me peça para me acostumar com o menos. Com o eu sozinho. Com a cama inteira só pra mim. Não me peça para parar de pensar em você aqui. Não mencione a possibilidade de não voltar. Eu sinto. Eu sinto seu coração me dizer "até logo", quando sua boca me diz "adeus".

Então, vai sem escândalo. Finge que está indo para sempre. Amanhã eu ligo para minha mãe, digo que você foi. Troco a fechadura da porta da frente. Digo para todos que ligarem, que você não mora mais aqui. Durmo sozinha. Sofro comigo. Aí você volta. A gente finge que acreditou que tinha acabado e começa tudo de novo. Descobriremos como a cama fica maior com mais gente. Ela fica cheia... cheia de amor. Chega aqui, me abraça, me beija, me põe para dormir... 

Vai suave, mas volta logo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quem vai pagar pelo morto?


Sempre joguei cartas. Qualquer um que jogue também sabe como é horrível ter um jogo que você não sabe nem por onde começar. E é assim que eu estava me sentindo diante da vida. Porém, em um jogo, você pode começar outra partida e fingir que aquela jamais existiu, na vida não. O único objetivo em um jogo de cartas é vencer (a diversão é só um bônus e nós sabemos que isso é a verdade), é ser desafiado, passar por cima de tudo e sair vitorioso. E, sem dúvidas, meu objetivo era e sempre foi ganhar. Um amor, um dinheiro, um jogo, enfim, a satisfação de ter realizado meu plano.

Eu estava com todas as cartas na mão, pronta para bater e pegar o morto. Eu tinha duas seqüências de exatamente sete cartas dos naipes Ouros e Copas e um coringa de Espadas, que coincidentemente era o que a dupla adversária precisava. Eu só precisava escolher uma das reais e sujá-la. Eu estava com uma sorte que não se vê em qualquer lugar e que como diria o populário “não bate duas vezes na mesma porta”. No entanto, escolher entre um tesouro e um amor e lá fincar uma espada, não me parecia de jeito nenhum uma boa opção.

Como escolher entre duas coisas que parecem tão interligadas e tão certas? O tesouro só estava sendo chamado assim, pois por meio de uma afeição tornou-se algo tão valioso e raro que gostaria de ter para sempre perto de mim, podendo cultivá-lo e estimá-lo todos os dias. E aquele amor tinha a intensidade e profundidade de um amor de Camões “é fogo que arde sem se ver, é a ferida que dói e não se sente”. E por dentro aquilo queimava, ardia, doía, mas creio no instante em que nos tornamos amantes, passamos a ser masoquistas e ansiamos viver essa dor com o desejo que a cura nunca nos separe.

Eu poderia roubar colocando aquele dois de Espadas na manga e assim não sujaria nenhuma das canastras, entretanto, passar por um obstáculo é melhor e mais adequado do que simplesmente derrubá-lo, além do que, prezo minha honestidade e seriedade. Mantendo a integridade, poderia abandonar a mesa gritando, chorando, alegando não estar me sentindo bem, ou qualquer desculpa esfarrapada. Todavia, não é, nunca foi, e arrisco-me a dizer que nunca será do meu feitio desistir das coisas, jogar tudo para cima. Eu precisava tomar uma decisão.

As coisas complicavam-se cada vez mais quando eu procurava separar os dois casos em prós e contras e percebia que ambos estavam recheados pelas duas qualidades. Parecia-me muito injusto ter que optar por qualquer um dos vermelhos. O nível de adrenalina no sangue subia cada vez mais, enquanto era indagada para tomar logo a decisão que fosse e realizar minha jogada, afinal o jogo precisava continuar e eu o estava empacando. 

E foi então que eu percebi que era exatamente daquilo que eu precisava, pelo menos por alguns instantes, permanecer ali parada, estagnada. Desliguei os meus ouvidos, fechei as cortinas-pálpebras dos olhos, parei de falar. Eu reconhecia que precisava tomar uma decisão e reconhecia que a cartada decisiva estava em minhas mãos, contudo, tinha uma perigosa certeza que enquanto o mundo girava e eu permanecia inerte, nenhum balão voaria e nenhum coração pararia de bater.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A espera de uma espera


Sabe aquela história de que quando a gente menos espera as coisas acontecem? Se é verdade ou não, eu não sei. O fato é que eu não estava esperando, quando aconteceu. De longe eu podia ver aqueles olhos me fitando, sentir aquele perfume de insegurança, saborear o gosto da incerteza. Então, eu pude perceber que algo iria acontecer.

Ela caminhou em minha direção e me disse com sua voz suave "oi". Logo já sabia o que ela estava realmente me dizendo: "eu vou entrar na sua vida agora, sem te pedir permissão, mudar seus planos, te fazer repensar suas prioridades e, talvez, partir". Então, respondi "oi", como quem diz, "acho que não tenho nenhuma outra opção, a porta está fechada, espero que você tenha as chaves".

O fato é que a porta estava realmente trancada. Acho que a última vez que abriram, levaram as chaves. Também fizeram questão de trancar todas as janelas e fazer certeza que ninguém mais entraria ali. Eu queria que alguém viesse, e, com chaves mágicas abrisse tudo e me invadisse. Invadisse até que eu estivesse destrancado novamente.

Por diversas vezes quis perguntá-la se possuía as chaves. Tinha medo. Se ela não as possuísse, eu estaria preso no meu isolamento para todo o sempre. Eu queria que ela tivesse as chaves. Queria que ela abrisse as portas e fizesse do meu peito o seu lar. Mas tinha medo.

Percebi, então, que quem havia trancado todas as possíveis entradas, havia sido eu - por medo. Medo de que alguém entrasse novamente e destruísse os móveis, levasse as jóias, quebrasse as louças. Tudo que existia ali dentro era frágil. Queria pegar aquelas faixas de mudança que dizem "cuidado, frágil" e envolver-me nela dos pés à cabeça. Assim, aqueles que me vissem de longe, saberiam que sou facilmente destrutível. 

Não achei esta faixa em lugar algum, sendo assim, tranquei-me em mim mesmo. Ergui minha barreira. "Nunca mais sofrerei de novo", eu pensava. Eu estava protegido, porque tinha medo. Mas aquela moça... olhos cor de mel, cabelos castanhos, olhar fixo... eu queria que ela possuísse as chaves.

Um tempo se passou e eu continuava esperando. Esperando que ela chegasse em casa um dia e me dissesse "amor, o chaveiro da esquina me entregou umas chaves, mas não sei para que servem". Então, eu revelaria para ela: "elas servem para que você entre, para que você faça parte, para que você me inteire". Entretanto, cada dia que passava, mais certeza eu tinha de que as chaves estavam perdidas, que não existia saída pra mim.

Um dia resolvi procurar. Revirei todos os meus cantos. Queria encontrar a passagem para a minha liberdade. Livrar-me de mim. Fugir comigo mesmo para bem longe. Derrubar aquele muro que eu mesmo construí. E quanto mais eu procurava, mais perdido eu ficava. "Quando a gente menos espera, as coisas acontecem..."

Naquela noite, depois do jantar, ela me disse que estava indo embora. Mostrou-me as malas prontas. Eu não conseguia compreender o porque; "Não posso ficar aqui para sempre, esperando que você pare de esperar". Então, eu pude entender. As chaves sempre estiveram na porta. Ela abriu, entrou, acomodou-se, fez uma faxina, organizou os móveis... aí foi embora. Foi embora porque não fui capaz de olhar pra mim. Não fui capaz de olhar pra dentro e perceber que já estava na hora de parar de esperar...

Entendi que não havia nada que eu pudesse fazer para que ela resolvesse ficar na nossa casa. Então, ela me olhou fixamente, me abraçou, pegou minhas mãos e depositou seu chaveiro. "Acho que eu não preciso mais das chaves da sua casa... adeus". E saiu porta afora, deixando as chaves em minhas mãos.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Infindável


Ela fechou os olhos e chorou. Olhar para dentro revelou que ele ainda estava ali. As lembranças físicas foram todas apagadas, queimadas, desfeitas. Não restava nem sequer uma foto à ser olhada, um presente que a fitasse, um perfume a se sentir. Seria necessário? Não restava mais nada. Apenas a saudade. Poderia apagar todos os vestígios daquele tempo que se foi. E assim foi feito. Mas não se apaga uma lembrança. Foi então que ela descobriu o significado da palavra saudade... Saudade não significa querer fazer o relógio rodar ao contrário, desejar reviver o passado. Saudade é apenas a prova infindável de que em algum momento, ele esteve por ali. 

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