quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Um suspiro no meio das pedras

A gente respira fundo pra encher os pulmões de vida. No intervalo da nossa rotina, da nossa mesmice, da nossa rigidez. Logo a gente... a gente que prometeu que faria da vida um eterno carnaval. A gente que se amava na cama, na beira do rio, na areia fria na noite de verão. A gente que se amava pelo olhar, pelos ruídos, no toque das mãos. A gente que não tinha limites pra ser.

Eu suspiro na busca de encontrar respostas. Mas ar nenhum me explica como foi que a gente chegou nesse lugar. A gente era pássaro itinerante e a única pedra que nos parava era a do Arpoador. O céu cor de laranja no fim de tarde. Você sempre dizia que as palmas eram pro meu sorriso. E agora eu já nem me lembro de sorrir.

Quando foi que a gente virou pedra? Quando foi que a leveza do vento paralisou nossa dança? Nossos giros têm me deixado tonta. Você me dizia pra fixar num ponto que resolvia. E meu ponto fixo era o seu olhar. Eu me perdia em você e agora não te encontro mais. Agora eu não me perco. Sei exatamente onde estou.

Pega a minha mão, entrelaça seus dedos nos meus e diz que é assim que você quer ficar. Eu fico contando os dias para fevereiro, para vestirmos nossas fantasias e irmos juntos pra rua. Para a nossa realidade voltar a ter purpurina, pra gente voltar a ser carnaval. Para eu te encontrar na minha multidão e respirar no meio das pedras.




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

"No meio do caminho"

Sabe um sorriso bonito? Então, ele tem. Desses assim que dá vontade de parar qualquer coisa só para ficar olhando. E quando eu percebo já mergulhei na sensação que ele me provoca e fui embora. Embora dessa razão opressora que me diz que é melhor olhar pro lado e fingir que não viu; que tenta me convencer que o melhor que faço é parar onde estou e dar dois passos para trás. 

Para trás, sabe? Naquela parte do caminho em que você já esteve e que pode até ser meio assustadora, desagradável, desconfortável, mas é conhecida. É aquele pedacinho de terra que você já sabe a cor, o entorno, o cheiro, o gosto. Isso te faz acreditar - ilusão - que está no controle.

Controle das causas e dos efeitos. O peito infla, a coluna erige e a gente diz que está seguro. E o engraçado é que a proteção funciona mesmo, em muitos aspectos. A gente repele qualquer coisa que o corpo diz "atenção, perigo" e volta mais dois, quatro, seis... passos para trás. 

É que se desse mesmo para andar ao contrário estava tudo certo. Mas a gente continua andando pra frente porque é a única forma que sabemos, mesmo que a passos de formiga. E no meio do caminho tinha um sorriso, tinha um sorriso no meio do caminho. E eu sorri de volta.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Vôo 3002

Um abraço. Ele diz em seu ouvido que até logo não significa adeus. Derrama uma lágrima. Entra no portão de embarque. Voa. Senta-se no canto e vê o sol se pôr da janela do avião. As nuvens ganham um tom alaranjado que lembram-no do cabelo dela. O coração aperta. Fecha os olhos e dorme.

Ela se senta e espera.

Desembarca. Pega o táxi. Chega no seu novo lar. Passeia pela vizinhança. Faz amizade com um cachorro. Adota um gato. Começa o novo trabalho. Sai para uma cerveja. Conhece alguém. Sai para um jantar. Terminam no seu apartamento. 

Ela olha as fotos na parede e escreve uma carta.

Viaja. Vai à praia. Conhece as montanhas. Aprende a esquiar. Leva café da manhã na cama. Almoça nos domingos com a família. Coloca um porta-retrato na sala. Recebe a carta. Não responde. Não atende o telefone. Às mensagens diz apenas que está muito ocupado. Diz que sente saudades. Vai para o bar. Cumprimenta o cachorro.

Ela não entende e se culpa. 

Sonha. Acorda confuso. Olha pro lado e vê que não está sozinho. Os vestidos entrelaçam as camisas no armário. Compra uma passagem. Tira férias. Um abraço. Um até logo. Sorri. Entra no portão de embarque. Do canto vê o pôr-do-sol e as nuvens ficando laranja. Lembra da carta que nunca respondeu. 

Ela se sente ansiosa.

Passa pelo portão de desembarque. Os olhares se cruzam. Paralisa. Vê seu aceno. Caminha até ela. Um abraço. Derrama uma lágrima. Pegam um táxi. Chegam no seu antigo lar. Passam pela porta. Tudo no lugar. Olha as fotos na parede e sorri.

Ela se sente estranha.

Jantam. Conversam. Tocam as mãos. Sorriem. Os olhos desviam. O ar pesa. Passeiam pela vizinhança. Ouve sobre as coisas que aconteceram e se cala. Voltam para casa. Dormem juntos. Ele acorda. Senta-se na sua poltrona de sempre. Lê o jornal. Tudo no mesmo lugar.

Ela olha para ele e percebe que está tudo fora do lugar.

Um abraço. Ela diz em seu ouvido que, às vezes, um até logo é um adeus. Derrama uma lágrima. Deixa-o no portão de embarque. Senta-se na janela do carro e o sol deixa seu cabelo alaranjado. Chega em casa. Tira as fotos da parede. Aceita um convite.

Ele escreve uma carta.

Ela não responde.



domingo, 1 de junho de 2014

Por só estarmos distraídos

Eu te coloco nos meus textos que é pra ver se você ganha forma. Tá certo que a gente combinou que o que a gente sente é muito mais importante do que os outros dizem que a gente é, ou do que nós mesmos dizemos ser. Mas é que às vezes vem aquela vontadezinha de te definir em algo. De dizer - pra mim mesmo - que somos uma forma fechada. A gente combinou que rótulos acabam com a magia e lemos Clarice juntos decidindo estar para sempre distraídos. É que tem hora que eu começo achar que nossa distração já tá virando nome e me dá vontade de fazer diferente. 

O combinado era ser sincero e falar sempre a verdade. É que tantos outros já te mostraram que não falar a verdade é jogar e a gente quer é viver. Eu só posso te dizer que a sinceridade não me falta; que minhas palavras para você são sempre honestas, mesmo que isso te mostre os meus pontos mais fracos. É que cê mal sabe como foi difícil te dizer o quanto gosto de você e como tô aberto pra deixar esse sentimento se espalhar pelos meus poros. 

Mas é que a verdade das palavras não é a verdade do mundo. E, às vezes, meu corpo tem vontade de agir diferente do que eu digo que quero ou do que concordei com você que seria o melhor. É que minha mão vai de encontro a sua enquanto meus braços clamam por ter seu corpo entre eles e a palavra sai pra calar o beijo. 

É que andar distraído é poder tropeçar. E nosso caminho já tá ficando reto demais, liso demais, certo demais. Eu tô querendo entortar e dar pra gente um nome que nos deixe esbarrar nos limites que ele mesmo produz e cair em cima do outro que também podemos ser.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ele existe

Cê disse que era bom comigo, mas que ainda queria ver se o mundo trazia seu príncipe no cavalo branco. Ele estaria ali lindo e impecável depois de lutar com dragões e outros perigos só para ficar com você. E que não fosse príncipe encantado, mas cê queria sentir vontade de correr no aeroporto chorando e pedindo pra que ficasse. Cê queria ser filme e queria acreditar que esses amores existem. E eu te disse que sim, que eu acredito.

Quando cê foi embora eu me perguntei como é que pude deixar você ir assim. É que enquanto cê me dizia que tava indo e que não queria estar mais ali comigo, só senti meus olhos transbordando e vontade de gritar pro mundo, fazer cena, até você ficar. Mas não fiz. Você disse tanta coisa bonita sobre nós dois e isso que a gente tem que nem lembrei de perguntar "por quê?", só disse que te queria bem. E eu apenas te observei sorrindo com a boca e fugindo com o olhar enquanto me dizia que precisava ir e que eu me cuidasse. 

Cê virou de costas e caminhou com aquele seu andar de quem tá com coisa demais na cabeça e acaba tropeçando. E tropeçou mesmo. Olhou para ver se eu ainda te olhava e riu por ser tão distraída. Seguiu seu caminho. Em busca do seu príncipe, sei lá... em busca de sentir isso aí que o mundo te promete que ainda vai chegar.

E desde que cê foi embora que eu fico aqui me perguntando "por que diabos eu não te perguntei o motivo de você estar indo?". Talvez o mero clichê "não é você, sou eu" acalmasse meu coração que não parava de sentir culpa pelo que fez e não fez para você não ter ficado. É que eu queria poder acreditar que naquele ponto eu podia ter feito algo diferente.

"Por que eu quero que você fique?". Eu tava no meio da minha exaustiva tarefa mental de pensar todos os motivos que pudessem ter feito você ir e foi preciso chegar ao meu "não sei" para entender que talvez você também não soubesse. É que talvez essa história toda de príncipe encantado faça sentido pra você do mesmo jeito que seu sorriso nas luzes laranjas do pôr-do-sol na beira do mar faz sentido pra mim. É que quando me perguntam o que é que eu vi em você para te olhar com esses olhos de admiração, eu mesmo não sei dizer.

Agora eu meio que agradeço a mim mesmo por não ter te pedido justificativa pro caminho que cê escolheu seguir. É que "não é você, sou eu" é mentira e nunca daria conta de explicar isso que se passa com a gente e nem a gente sabe dizer o que é. Eu não encontrei o príncipe, mas descobri como ele consegue continuar impecável depois de tanta luta. É que quem conta essa história é a princesa... é o olhar dela que descreve a beleza radiante do amado. É que se perguntassem pra mim como é que você acorda, chora, fica de porre, eu descreveria essa mesma perfeição. O príncipe só existe aos olhos de quem sente isso aqui que eu sinto por você.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Até uva-passa (e você também)

Eu tinha lá para os meus 13 anos e estava sofrendo. Todo sofrimento naquela época parecia interminável. Eu me sentia tão adulta em sofrer por amor. E eram 13 milhões de lágrimas que brindavam o fim do meu primeiro namoro. Troquei os beijos pela tristeza e fui sofrer por aí. Então, um dia, entre amigos, eu lembrei dos cachinhos e chorei. E enquanto chorava, aquelas outras crianças-adultas tentavam me dar conselhos e palavras confortáveis de como isso ia passar. Até que uma criança-criança pôde com toda sua juventude e leveza me dizer "tudo passa (pausa), até uva-passa". E eu ri. 

Desde esse dia, a frase "tudo passa" parece-me incompleta e sempre termino na minha cabeça com a imagem do doce sorriso do meu primeiro fim de relacionamento. Eu aprendi que passa mesmo; que um dia toda aquela dor se transforma em lembrança (e, tantas vezes, com sorriso implícito) e deixa de pesar. Todavia, o belo da passagem não é o fim da dor, mas o que acontece depois dela. É o sorriso que vem depois das lágrimas e, ainda, as próximas lágrimas que surgem depois daquelas. É a capacidade de deixar de ser e vir-a-ser.

O que eu não descobri naquela época e que ainda descubro é que tem coisas que não passam. E, as uvas-passa que me perdoem, mas nem tudo é como elas (elas podem se sentir especiais por isso). Nem tudo tem potência de passagem. Há coisas que ficam; mutante-mudando-sendo outras, mas ficam. 

Aquela sensação de sair de uma mesa de bar, onde se estava rodeada por fumantes, chegar em casa com aquele cheiro impregnado nas roupas, no cabelo, na pele; e parece que leva banhos e banhos para livrar-se dele. É que às vezes o cigarro impregna a alma, como o teu impregnou a minha. É que são poucas as coisas que conseguem chegar à esse nível de encontro não-corporal. Essa conversa no silêncio e no toque de mãos-dedos-olhares. O entendimento que não se entende. O que chega n'alma não passa.

Então, talvez, você seja mesmo como uma uva-passa e, assim como os meus 13 anos, passe. Só que tem pedacinhos dessa inteireza que ficarão. É que a minha alma não precisa transformar nada em "ex" para que possa vir-a-ser outra com outros. 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Pássaro

Você passa assim, de mansinho, como brisa, tentando não se fazer notar. Segue suave nesse ritmo devagar, mas nada-parando, que é para não se apressar e não aparecer demais. É que ventania forte anuncia tempestade e, mesmo os mais distraídos, notam as árvores balançando e as folhas voando pela rua. Ventania dá medo. Sente medo de ser percebido passando e dá falta de desculpas para justificar a passagem. Você só quer ir, sozinho, sem pesar. Sua leveza venta baixinho; seus pés te prendem no instante, no medo, naquela tempestade que ainda não passou. E será que passa?

Você passa. Passa e movimenta. Os olhos fechados e desapercebidos do muito, sentem o carinho que faz seu movimento nas orelhas, pescoço e mãos. Seu sopro é doce e porta sutileza. Mas o movimento por entre os outros parece, por vezes, não combinar com a relação que você traça com o chão. É que vai e fica. E a vontade de ir se cala diante dos pés estagnados e ombros carregados que não se deixam voar.

Voa e vai. 
A chuva já passou e lavou o caminho. 
Deixe que o medo escoe e o corpo se faça outro. 

sábado, 8 de março de 2014

Você em mim

No dia em que te conheci eu soube. Soube que você ia fazer parte, ia cruzar sua reta na minha torta e deixar uma marca. No jeito que me olhava sabia que você guardava algo de especial; e seus lábios clareavam a certeza de que faltava aquela peça no meu quebra-cabeças. Você seria.

Eu arrumei um pouco a bagunça da sala, do banheiro, do quarto. Recebi você de portas trancadas que era pra ninguém perturbar esse momento que era só nosso. Eu via nosso começo se desenhando e dando forma à todas as sensações que nosso primeiro encontro ocular me trouxe. E você não me trouxe flores, nem vinho; trouxe gestos e palavras. Trouxe sentido.

Eu senti aquela espécie de reviravolta no estômago que não machuca. Aquele arrepio na pele. E a gente se tornou música. É que sua batida combinava com a minha melodia e já poderíamos lançar um álbum. Seu carinho fazia água nos meus olhos e você nem percebia. A gente estava sendo.

Você foi. Levou seus gestos e palavras e deixou apenas flores e uma garrafa de vinho. E eu bebi e brinquei de "mal-me-quer, bem-me-quer" com todas as pétalas. É que talvez o fundo da garrafa ou o miolo da flor me trouxesse a resposta, a explicação; me devolvesse o sentido, arrumasse a bagunça que você deixou. Por que é mesmo que você foi embora?

E demorou até eu entender que algumas palavras eram vazias mesmo; que carinho não era promessa de duração e encaixes se desfazem da mesma maneira que se fazem; que o que a gente poderia ser, não é o que a gente é. E a gente segue. Segue um caminho. Segue diferente. 

Eu segui diferente. Diferente de você; diferente de mim antes de você. E você levou tudo aquilo que só teu corpo podia me dar. E deixou um pedaço. Porque de tanta diferença, havia uma certeza. E eu confirmei que você ia mesmo deixar marca quando passasse. E agora sou eu que passo marcada.

Eu segui um caminho outro. É que você me desviou de onde eu estava indo. E ouvi outro dia que por lá havia um acidente, uma batida, uma parada que impedia qualquer fluxo. Para onde eu vou, não sei. Mas, obrigada. Obrigada por me emprestar um pouco de você para eu chegar um pouco mais em mim.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Vou chegar mais tarde

Eu preciso te dizer adeus. Não é desses "vou embora pra sempre", nem nada assim. É um adeus temporário, serve? É que até logo determina que não vai demorar e eu não posso te garantir isso. Então, que fique essa sensação de que eu tô indo de vez e que não volto mais. Assim você não me espera e eu não me apresso. E o meu tempo vai ser só meu e não importa quantos minutos ele vai conter. 

Eu quero te dizer que tô indo, mas não é para que você peça que eu fique ou para que chore. É para que entenda que seu ritmo é bom, e eu gosto, mas não combina com o meu. Não pensa que você foi rápida demais, ou que demorou. Só que tempo nenhum caberia agora. Por isso que tô desligando o celular e me desligando de você.

É que quando eu te vi, parecia encaixe perfeito. E cada palavra sua combinava com os meus pensamentos. E a gente deu certo. A gente teve química, física e outras tantas combinações... mas não teve harmonia. É que a gente errou a hora. Tava marcado pras 16h, mas eu só vou chegar mais tarde. E eu sei que você já comprou os ingressos e tá me esperando. Não espera. Arruma outra companhia e segue seu caminho.

Não adianta mandar o corpo, se a cabeça ficar em outro lugar. E, por mais difícil que seja entender, não é mentira e nem falta de vontade. É descompasso e dói em mim saber que tô te decepcionando e que eu já estava nos seus planos. 

Eu queria que você ficasse e meus amigos até dizem que é autossabotagem. Eles acham que eu estrago minhas chances de ser feliz e que você é tudo aquilo que sempre sonhei. E é mesmo. Só que relações são muito mais do que um encontro de ideais. E vai ver existe mesmo um motivo para esse clichê de pessoa certa na hora errada. E eu sei que, quando for o momento certo, talvez eu seja o cara errado. 

Não me espera, que eu vou chegando. Vou ali me recompor e volto. Volto inteiro, porque você merece muito mais do que metade de mim. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Duração

De repente o coração gritou. Cansado de ser calado e desacreditado, gritou. E apagou a razão; pediu alforria; ganhou liberdade. De repente ele protestou que era o seu nome que eu tinha que ouvir e que não importava mais se isso podia não dar certo. Não se tratava mais de fatos e de suposições; e que se dane o "e se", porque falso controle não apaga desejo.

De repente te olhei e cada "não" pensado tornou-se "sim" dito. Saí derrapando pelo caminho, derramando palavras, propagando sonhos. E eu não era mais boba, romântica, idealizadora; era reflexo. Reflexo de mim. Reflexo sem reflexão. E de repente nem era tão de repente assim, porque já era esperado há muito tempo. 

Eu cansei da impessoalidade, do distanciamento, dos afastamentos. Os "ados" e "idos" não serviram mais. Troquei o nosso infinitivo pelo verdadeiro infinito. Nos transformamos em gerúndio e seguimos sendo, vivendo, amando, durando.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Antes de você ir

Antes de você ir, por favor, apaga a luz, não faz barulho e nenhum movimento brusco. Deixa a porta entreaberta que é pra entrar um raio de sol e me dizer que você não está mais do outro lado da cama, que chegou a hora, mas que a porta não tá fechada. Se achar bom, deixa um bilhete com umas palavras doces e a sua assinatura e eu vou guardar para lembrar que você estava lá.

Antes de você ir, deita aqui um pouco e me abraça como se o relógio tivesse parado e o mundo também. E ficaríamos para sempre na primavera, nas 22 horas, nos braços entrelaçados. É que seu abraço por si só já tem esse poder e eu sempre acho que o tempo não passou e que ainda dá pra ficar mais 5 minutinhos.

Bagunça meu cabelo, me deixa com cara de louca, me beija, me toca, me ama. Faz tudo isso antes de você ir. E guarda seus nãos em um cantinho bem obscuro que, até a hora chegar, eu só quero ouvir sim. Fala com os olhos, com os dedos, com o toque e com pouquíssimas palavras. Porque eu quero esquecer a razão do lado de fora.

Antes de você ir, fica. E quando a hora chegar você pega suas malas e guarda os sonhos, os planos, os projetos e, principalmente, as lembranças; as lembranças com cheiro do meu perfume, com gosto dos meus beijos e com sons dos meus ruídos. Aí, você só diz que valeu a pena. 

Antes de você ir, por favor, apaga a luz, não faz barulho e nenhum movimento brusco. Deixa a porta entreaberta que é pra entrar um raio de sol e me dizer que você não está mais do outro lado da cama, que chegou a hora, mas que a porta não tá fechada. Se achar bom, deixa um bilhete com umas palavras doces e a sua assinatura e eu vou guardar para lembrar que você estava lá.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Despindo-se

Bota essa calça e se despe. É que já conheço todas as curvas dos seus músculos e seu tom de pele. Já sei como a coxa fica branca daquelas bermudas que você usa pra pegar sol. E conheço suas cicatrizes, suas tatuagens, seus pontos fracos. A cosquinha que você sente aqui bem perto das costelas só de tocar os dedos com mais sensibilidade. A respiração que muda quando você se excita e o olhar de quando me deseja. Já conheço...

Então, te peço, coloca essa roupa toda. Se for preciso cobre até a cabeça. Apaga a luz, deixa tudo escuro, me venda... E se afasta lentamente que eu quero sentir você se aproximar. Aí, você larga essa vergonha, esse receio, esse medo, essa dúvida e se despe, totalmente, até não sobrar mais nada. E me conta da sua família, do seu dia, dos seus planos. E me chama; me chama pra fazer parte.

É que se você pedir eu tiro a roupa que me cobre, sem calma, de uma vez, e tiro o sorriso que disfarça, as palavras que distraem. E deixo você olhar pra mim assim, exatamente como eu sou: cheia de complicações, paranoias e medos. É que eu cansei de dizer pra você ir embora antes de todo mundo acordar e, talvez, queira mesmo passar um café pra você de manhã e te convidar para almoçar.

Eu me dispo de tudo que te afasta, que te diz não e destrói os sonhos. Se despe também e se veste de mim. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Você aqui

Eu te vi na esquina, espiando de longe, esperando eu sair de casa. Já faz tempo que te vejo passando por aqui para ver se pega um pouquinho de mim, mesmo que de longe, mesmo que de relance. E já te falei que você pode entrar, que a porta tá aberta, que seu olhar pode encontrar o meu sem medo, sem dúvida, sem dor. É que, às vezes, você fica tentando entender o que é isso que tá acontecendo e eu já estou cansada de explicar que não tem explicação.

Pode chegar mais perto e perceber que eu tô aqui agora. É que você se preocupa demais se amanhã eu ainda vou estar no mesmo lugar, se a gente vai dar certo, se as coisas vão acontecer. Eu já te disse, meu bem, já te disse que não sei. E pára de dizer que não tenho certeza de nós, porque já te falei que certeza eu só tenho de que seus lábios são uma delícia e nosso beijo encaixou como chave na fechadura feita sob medida. 

É que eu não vou mesmo te prometer o mundo, a lua, as estrelas. Eu parei de sonhar há tempos atrás. Parei de sonhar desde que acordei e vi que nada daquilo era verdade. Agora eu vivo, meu bem. E estou aqui de braços abertos te falando para entrar e viver comigo. 

Pode passar da porta que eu prometo tentar não te machucar. Tentar, porque não tem como saber se amanhã você vai continuar gostando desse meu jeito de dizer as coisas sem pensar duas vezes. E, também, não sei se continuarei gostando de tudo que acho lindo em você agora. É que, às vezes, acontece da gente apagar o brilho das coisas e achar tudo meio fosco. 

Eu não quero mascarar a verdade com umas palavras bonitas e dizer pra você se jogar sem olhar pra baixo que tudo vai dar certo. Só que agora tá dando certo e o que posso te dizer é que se você cair eu tô te dando as mãos. E é nesse entrelaço de dedos que digo, penso e escrevo. Agora eu só quero você aqui. E só peço que fique enquanto quiser ficar. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

E depois do nada, vem o quê?

Eu prometi que não iria virar a cabeça, que não pararia para ver o que deixei para trás em momento nenhum. E por tantas vezes o movimento foi mais rápido que o pensamento e só o que pude ver foram seus olhos tristes me pedindo, sem palavras, para que ficasse. E eu fiquei.

Fiquei porque seus beijos eram os melhores e eu nunca poderia encontrar nada igual; seus abraços me renovavam a energia independente do meu estado emocional; porque toda vez que você me dizia não, eu ficava para lutar pelo seu sim; e quaisquer fossem seus defeitos, você seria sempre a melhor pra mim.

Eu fiquei tantas vezes que não imaginava mais o que seria não ficar. E você se tornou o ar que eu respirava. Mas tudo que entrava no pulmão era poluição e estava me fazendo mal. E você foi me corroendo por dentro até não sobrar mais nada. E depois do nada, vem o quê?

Eu prometi não virar a cabeça, mas virei. E quando olhei para trás, você já não estava. Havia enchido sua mala de sonhos e planos que nunca realizaríamos e ido para bem longe de mim. Procurei pelos cantos da casa algum sinal de você, ou, até mesmo, um bilhete de adeus. Nada, nada, nada.

Respirei fundo. Pela primeira vez não senti dor. E você foi embora sem olhar pra trás, sem olhar pra mim, sem pedido algum. E agora eu sei como é ficar sem você. E agora eu sei o que vem depois do nada. E agora eu sou sem você.

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