quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Antes de você ir

Antes de você ir, por favor, apaga a luz, não faz barulho e nenhum movimento brusco. Deixa a porta entreaberta que é pra entrar um raio de sol e me dizer que você não está mais do outro lado da cama, que chegou a hora, mas que a porta não tá fechada. Se achar bom, deixa um bilhete com umas palavras doces e a sua assinatura e eu vou guardar para lembrar que você estava lá.

Antes de você ir, deita aqui um pouco e me abraça como se o relógio tivesse parado e o mundo também. E ficaríamos para sempre na primavera, nas 22 horas, nos braços entrelaçados. É que seu abraço por si só já tem esse poder e eu sempre acho que o tempo não passou e que ainda dá pra ficar mais 5 minutinhos.

Bagunça meu cabelo, me deixa com cara de louca, me beija, me toca, me ama. Faz tudo isso antes de você ir. E guarda seus nãos em um cantinho bem obscuro que, até a hora chegar, eu só quero ouvir sim. Fala com os olhos, com os dedos, com o toque e com pouquíssimas palavras. Porque eu quero esquecer a razão do lado de fora.

Antes de você ir, fica. E quando a hora chegar você pega suas malas e guarda os sonhos, os planos, os projetos e, principalmente, as lembranças; as lembranças com cheiro do meu perfume, com gosto dos meus beijos e com sons dos meus ruídos. Aí, você só diz que valeu a pena. 

Antes de você ir, por favor, apaga a luz, não faz barulho e nenhum movimento brusco. Deixa a porta entreaberta que é pra entrar um raio de sol e me dizer que você não está mais do outro lado da cama, que chegou a hora, mas que a porta não tá fechada. Se achar bom, deixa um bilhete com umas palavras doces e a sua assinatura e eu vou guardar para lembrar que você estava lá.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Despindo-se

Bota essa calça e se despe. É que já conheço todas as curvas dos seus músculos e seu tom de pele. Já sei como a coxa fica branca daquelas bermudas que você usa pra pegar sol. E conheço suas cicatrizes, suas tatuagens, seus pontos fracos. A cosquinha que você sente aqui bem perto das costelas só de tocar os dedos com mais sensibilidade. A respiração que muda quando você se excita e o olhar de quando me deseja. Já conheço...

Então, te peço, coloca essa roupa toda. Se for preciso cobre até a cabeça. Apaga a luz, deixa tudo escuro, me venda... E se afasta lentamente que eu quero sentir você se aproximar. Aí, você larga essa vergonha, esse receio, esse medo, essa dúvida e se despe, totalmente, até não sobrar mais nada. E me conta da sua família, do seu dia, dos seus planos. E me chama; me chama pra fazer parte.

É que se você pedir eu tiro a roupa que me cobre, sem calma, de uma vez, e tiro o sorriso que disfarça, as palavras que distraem. E deixo você olhar pra mim assim, exatamente como eu sou: cheia de complicações, paranoias e medos. É que eu cansei de dizer pra você ir embora antes de todo mundo acordar e, talvez, queira mesmo passar um café pra você de manhã e te convidar para almoçar.

Eu me dispo de tudo que te afasta, que te diz não e destrói os sonhos. Se despe também e se veste de mim. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Você aqui

Eu te vi na esquina, espiando de longe, esperando eu sair de casa. Já faz tempo que te vejo passando por aqui para ver se pega um pouquinho de mim, mesmo que de longe, mesmo que de relance. E já te falei que você pode entrar, que a porta tá aberta, que seu olhar pode encontrar o meu sem medo, sem dúvida, sem dor. É que, às vezes, você fica tentando entender o que é isso que tá acontecendo e eu já estou cansada de explicar que não tem explicação.

Pode chegar mais perto e perceber que eu tô aqui agora. É que você se preocupa demais se amanhã eu ainda vou estar no mesmo lugar, se a gente vai dar certo, se as coisas vão acontecer. Eu já te disse, meu bem, já te disse que não sei. E pára de dizer que não tenho certeza de nós, porque já te falei que certeza eu só tenho de que seus lábios são uma delícia e nosso beijo encaixou como chave na fechadura feita sob medida. 

É que eu não vou mesmo te prometer o mundo, a lua, as estrelas. Eu parei de sonhar há tempos atrás. Parei de sonhar desde que acordei e vi que nada daquilo era verdade. Agora eu vivo, meu bem. E estou aqui de braços abertos te falando para entrar e viver comigo. 

Pode passar da porta que eu prometo tentar não te machucar. Tentar, porque não tem como saber se amanhã você vai continuar gostando desse meu jeito de dizer as coisas sem pensar duas vezes. E, também, não sei se continuarei gostando de tudo que acho lindo em você agora. É que, às vezes, acontece da gente apagar o brilho das coisas e achar tudo meio fosco. 

Eu não quero mascarar a verdade com umas palavras bonitas e dizer pra você se jogar sem olhar pra baixo que tudo vai dar certo. Só que agora tá dando certo e o que posso te dizer é que se você cair eu tô te dando as mãos. E é nesse entrelaço de dedos que digo, penso e escrevo. Agora eu só quero você aqui. E só peço que fique enquanto quiser ficar. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

E depois do nada, vem o quê?

Eu prometi que não iria virar a cabeça, que não pararia para ver o que deixei para trás em momento nenhum. E por tantas vezes o movimento foi mais rápido que o pensamento e só o que pude ver foram seus olhos tristes me pedindo, sem palavras, para que ficasse. E eu fiquei.

Fiquei porque seus beijos eram os melhores e eu nunca poderia encontrar nada igual; seus abraços me renovavam a energia independente do meu estado emocional; porque toda vez que você me dizia não, eu ficava para lutar pelo seu sim; e quaisquer fossem seus defeitos, você seria sempre a melhor pra mim.

Eu fiquei tantas vezes que não imaginava mais o que seria não ficar. E você se tornou o ar que eu respirava. Mas tudo que entrava no pulmão era poluição e estava me fazendo mal. E você foi me corroendo por dentro até não sobrar mais nada. E depois do nada, vem o quê?

Eu prometi não virar a cabeça, mas virei. E quando olhei para trás, você já não estava. Havia enchido sua mala de sonhos e planos que nunca realizaríamos e ido para bem longe de mim. Procurei pelos cantos da casa algum sinal de você, ou, até mesmo, um bilhete de adeus. Nada, nada, nada.

Respirei fundo. Pela primeira vez não senti dor. E você foi embora sem olhar pra trás, sem olhar pra mim, sem pedido algum. E agora eu sei como é ficar sem você. E agora eu sei o que vem depois do nada. E agora eu sou sem você.

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