quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ciência inexata

Fica mais um pouco que eu não quero perder aquilo que ainda não aconteceu. Deita aqui no meu peito e deixa eu te fazer um carinho; sente meus dedos nos seus cabelos, lábios, orelhas. Percebe eles dizendo que não querem que você vá? Já ensaiei uma forma de te dizer que ao meu lado é melhor do que ao das outras, mas na hora de falar as palavras fogem e escorrem para fora do meu corpo levando você junto.

Eu sei que você avisou desde o começo que na hora certa você iria embora, mas eu não quero que essa hora seja agora, nem depois, nem nunca. Eu prometi aquilo que não posso cumprir. É que seus olhos dizem pra mim que por trás de toda essa máscara existe alguém que quer ficar. Alguém que vai chegar em casa e se arrepender de todas as vezes que foi embora da minha cama e de todas aquelas que pediram para ficar um pouco mais. 

Meu coração já foi partido em milhões de pedaços assim como o seu e eu queria poder te dizer que sei a forma perfeita de consertar, juntar os caquinhos, botar para bater de novo com um espacinho reservado para me colocar dentro. É que eu sempre fui péssima nessa coisa de aplicar a teoria e cometo todos os erros na hora de tornar real aquilo que tem tudo para dar certo. Aceita meus erros e diz que isso aqui não é prova de matemática. Dois menos um pode continuar a ser dois, porque já passou sua hora e você ainda está aqui do meu lado.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Futuro do pretérito

Achava que depois daquele beijo tudo seria diferente; depois daquele instante de silêncio misturado com suor gelado e sangue fervendo, seus olhos me diriam mais do que sua boca. Achava que depois dos arrepios na pele, do gozo e da noite, nossos corações seguiriam em uma melodia outra. E os pássaros cantariam mais alto que os pneus dos ônibus quando o sol surgisse atrás do nada para anunciar mais do mesmo. Achava que depois da respiração curta, nossas mãos se entrelaçariam com um tom de eternidade.

Achava que bastaria aquela troca de olhares para que ela se tornasse pretérito, esquecido, indolor. E depois que eu me encaixasse perfeitamente entre seus braços, ele seria apenas uma lembrança vazia. Vazia de qualquer coisa que me fizesse pensar duas vezes e achar que nada mais seria igual. Depois de uma noite inteira, eu achava que os nossos corações dormiriam juntos e acordariam loucos de vontade para começar uma história inteiramente nova. E quando você fosse embora o estômago iria embrulhar só de pensar em ficar distante. 

Eu achava que todos aqueles sonhos significavam alguma coisa. E sua forma de olhar era sinal claro de que eu havia encontrado a solução. De repente meus problemas pareceriam desaparecer e eu ganharia alta da terapia e economizaria para fazermos aquela viagem juntos. 

E quando a noite acabou eu só escutava os ônibus em alta velocidade correndo na rua ainda deserta preenchida apenas do sono de quem levantou cedo para trabalhar. E seus braços ao redor do meu corpo tinham o mesmo peso que tinham antes. Seu olhar continuava o mesmo, lindo, mas distante. Achei, então, que eu é que não estava sabendo interpretar aqueles sinais tão claros de par perfeito. Ai, o telefone tocou e você atendeu. Pude escutar a voz chorosa que te pedia para voltar pra casa. E meus dedos escorregaram dos seus e correram para meus olhos. Nenhuma lágrima escorria e o coração batia exatamente no mesmo descompasso de antes.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Irracional

Peço desculpas por isso, mas tenho que ir. Não é que você não seja um cara legal, ou que não tenhamos afinidades. Não tenho como negar que nossa afinidade sexual vai além da maioria das minhas experiências. Eu gosto do jeito que você me olha e do jeito que você fala coisas bonitas no meu ouvido. Não adianta ficar buscando erros em nós para justificar minha partida. 

Não pense que não dói esse seu olhar de quem daria - quase - tudo para que as coisas fossem diferentes, ou suas ligações de madrugada com voz de Stella Artois me pedindo para repensar. Eu repensei, juro. Avaliei os prós e contras e, confesso, existem mesmo muito mais prós nessa história. Só que não é uma questão de avaliação, entende?

Eu preciso ir e talvez você ache que sou insensível. Não sei se sou, mas acho que esse é o ponto. Somos ótimos juntos, mesmo. Só que eu não sinto nada. E preciso dizer que nossa última noite foi maravilhosa, mas seus beijos no pescoço foram subindo para o ouvido e poderiam ter se mantido assim: beijos. É que quando você disse "eu te amo" eu senti vontade de correr. 

Se for mais fácil para você, pode acreditar que estou indo embora por medo de ser feliz. Acho que é isso que grande parte das pessoas faz, não é? E pode usar minhas lágrimas para justificar sua teoria, se isso lhe convém. Entretanto, devo dizer que são lágrimas de tristeza, não por ir embora, mas por perceber que a razão não sabe falar de amor.

Queria eu que palavras bonitas ganhassem vida no momento que saíssem da boca. Não seria lindo? Eu diria que também te amo e, de repente, seria verdade. Em alguns anos eu estaria toda vestida de branco com aliança no anelar esquerdo. Não, as palavras não têm essa potência. Não há como negar que, por vezes, elas podem transmitir sentimentos maravilhosamente bem; mas elas apenas transmitem, não criam.

Esquece essa história de pensar sobre nós. Eu já pensei muito. Aliás, só chegamos até aqui porque pensei demais. Se não o tivesse feito, não teria retornado a ligação para o-cara-que-não-me-lembro-o-nome-pois-estava-muito-bêbada. 

Eu tenho mesmo que ir. Meu ônibus vai parar de passar, estou sem dinheiro pro táxi e não quero que você me leve em casa. Sei que o que te magoa não são minhas palavras, mas a falta de arrepios na minha pele, independente da sua proximidade. Eu cederia aos seus pedidos e dormiria com você essa noite, mas não tenho vocação para destruir corações. Olha meus olhos: estão vazios. Preciso mesmo dizer mais alguma coisa?

Desculpa, mas eu tenho mesmo que ir.

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