quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Em Tempo

O tempo não anda pra trás. O tempo anda pra frente, em sua própria velocidade. Às vezes parece que o tempo não faz sentido. Ele vai no ritmo próprio e não se importa se a gente não está acompanhando. "Ô, Seu Tempo, dá pra dar uma desacelerada?"; "Vai um pouquinho mais rápido...". Será que ele não percebe que está descompassado? 

"A pessoa certa, na hora errada"; "a oportunidade certa, no momento errado"; "o tempo certo... e tudo errado". Será que o tempo que se importa pouco com a gente? Ou a gente que se importa demais com o tempo? Têm aqueles que dizem "o tempo está sempre certo"; "as coisas acontecem como tem que acontecer"; "é o destino, tinha que ser assim".

Coitado do tempo. A gente espera demais dele. "O tempo cura tudo". "Deixa o tempo passar". Pois bem, Seu Tempo, eu quero te defender. Você é só o tempo. Você tem seu próprio ritmo. Você não tem que curar nada, não tem que ter pressa e nem voltar pra trás. A gente é que tem que perceber que você passa, que você é decidido. Você têm pra onde ir, e você vai.

Acho que é isso, eu queria ser o tempo. Assim, eu não me importaria com ninguém. Eu iria sempre pra frente. Eu seria relembrado, mas não revivido. Eu nunca estaria atrasado, nem mesmo, adiantado. Ainda é tempo; sempre em tempo; há tempo... Viva o tempo! 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ao meu maior companheiro


Há dias que eu acordo e não quero levantar. Quero passar o dia inteiro ali, grudadinha em você. Quero te abraçar, me enroscar em você... sentir o seu calor. É você, você que me aquece no inverno e que me esquenta ainda mais no verão. Todas as noites, quando vou dormir, penso em você. Já não consigo mais dormir, se não for ao seu lado. 

Quantas vezes você já enxugou minhas lágrimas? Quantas vezes você já foi o meu único companheiro para uma triste tarde, ou para uma noite solitária? Eu só sei que quando te abraço, me sinto bem. Sinto que estou bem acompanhada. Sou capaz de ficar horas e horas enrolada em seu abraço. Quando estamos juntos, nem sinto o tempo passar. É na sua companhia que sonho todos os dias.

Não tem companhia mais calorosa, aconchegante, macia. Você não fala, você me escuta. Você não reclama, me acalma. Hoje eu quero ficar aqui, em seus braços, esquecer do mundo, esquecer de todos. Obrigada por estar sempre comigo, meu cobertor!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Carta para você


Querido,

Acabei de ter um sonho tão real que você não pode imaginar. Acordei suando frio, chorando e não entendi bem o porquê. O sonho era lindo, daqueles que te faz acordar sorrindo. Então, eu pensei bem, pensei no ontem, no hoje e no amanhã. Cheguei a uma conclusão que talvez não seja tão fácil de entender, mas resolvi te deixar e te esquecer. 

Talvez você me ache doida, talvez chore, talvez tenha raiva de mim. Mas eu sei o que estou fazendo e sei que vai ser melhor assim. Vou sentir a sua falta, vou lembrar de você. Mas não vou deixar telefone, endereço, nada que te dê chances de me ver. Vou embora daqui a pouco e não está sendo fácil. Quando você acordar verá que do seu lado não tem mais ninguém, só esta carta que te escrevo com lágrimas nos olhos, com uma letra borrada, com o coração na mão.

Mas sei que um dia você vai perceber que isso não foi bom só para mim, mas para você também. Talvez você se olhe no espelho e se pergunte “por quê?”, mas já vou te avisando que não há nada de errado com você. Não, não tem outro em seu lugar. Sei como você é e sei que nisso você também vai pensar. 

Acontece que aquele sonho... aquele sonho me despertou, me fez ver que não dá mais para ficar com você, amor. Eu percebi que preciso de você. Eu não quero precisar. Eu quero alguém que me adicione e não alguém que me complete. Eu quero mais. Eu quero transbordar. Eu não quero uma tampa para minha panela, não quero a outra metade da laranja. Meio limão, talvez.

Eu cansei de aceitar a rotina. Cansei de relevar as brigas. Cansei de me perder em você. Eu quero ser eu. Eu quero ser livre. Eu quero voar pra bem longe. Será que estou sendo muito infantil? Será que todos os relacionamentos terminam em comodismo? Será que estou procurando um amor de cinema que não existe na vida real?

Será que existem respostas? Eu vou buscá-las... 

Não peço que me entendas. Não peço que me perdoe. Prometo que um dia eu te ligo, mesmo que seja só como um amigo. Prometo que ainda te escrevo, te visito. Um dia ainda te conto que sonho foi esse que me fez partir. 


Um beijo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mas volta logo!

Se você quer ir, vai. Mas não vai agora. Espera o amanhã chegar. Fica mais um pouco. Finge que você não quer mais ir. Vamos fingir que o amanhã não existe. Vamos viver o hoje, o aqui, o agora. Quando chegar amanhã... ai você vai. Mas vai baixinho. Não faz barulho. Não me diz que tá indo. Eu não quero saber quando você foi. Quero acordar e descobrir que aconteceu. Não quero ver. Não quero ouvir. Não quero sentir.

Sempre que você vai, dói tanto. Parece que não sobrou mais nada. Mas quando você volta... meu corpo se enche de ar, de luz, de amor. Quando você volta eu me sinto mais. Eu sinto que sou mais que eu. Sou mais que sou sem você. Nem sempre mais é melhor, mas com você é. Quando você chega baixinho, sem fazer barulho e se enfia na cama... eu sinto os seus pés enroscarem nos meus e eu sei que você chegou. Eu sei que a angústia acabou. Sei que somos quatro pés, quatro mãos, dois corações e um amor.

Por isso, vai sem fazer muito alarde. Não avisa ninguém que você está indo. Deixa todo mundo pensar que você vai voltar. Deixa que eu pense assim. Eu vou me ver sozinha, mas vou fechar os olhos e vou pensar em você aqui. Vou sentir toda aquela matemática do mais e vou ficar feliz.

Não me peça para me acostumar com o menos. Com o eu sozinho. Com a cama inteira só pra mim. Não me peça para parar de pensar em você aqui. Não mencione a possibilidade de não voltar. Eu sinto. Eu sinto seu coração me dizer "até logo", quando sua boca me diz "adeus".

Então, vai sem escândalo. Finge que está indo para sempre. Amanhã eu ligo para minha mãe, digo que você foi. Troco a fechadura da porta da frente. Digo para todos que ligarem, que você não mora mais aqui. Durmo sozinha. Sofro comigo. Aí você volta. A gente finge que acreditou que tinha acabado e começa tudo de novo. Descobriremos como a cama fica maior com mais gente. Ela fica cheia... cheia de amor. Chega aqui, me abraça, me beija, me põe para dormir... 

Vai suave, mas volta logo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quem vai pagar pelo morto?


Sempre joguei cartas. Qualquer um que jogue também sabe como é horrível ter um jogo que você não sabe nem por onde começar. E é assim que eu estava me sentindo diante da vida. Porém, em um jogo, você pode começar outra partida e fingir que aquela jamais existiu, na vida não. O único objetivo em um jogo de cartas é vencer (a diversão é só um bônus e nós sabemos que isso é a verdade), é ser desafiado, passar por cima de tudo e sair vitorioso. E, sem dúvidas, meu objetivo era e sempre foi ganhar. Um amor, um dinheiro, um jogo, enfim, a satisfação de ter realizado meu plano.

Eu estava com todas as cartas na mão, pronta para bater e pegar o morto. Eu tinha duas seqüências de exatamente sete cartas dos naipes Ouros e Copas e um coringa de Espadas, que coincidentemente era o que a dupla adversária precisava. Eu só precisava escolher uma das reais e sujá-la. Eu estava com uma sorte que não se vê em qualquer lugar e que como diria o populário “não bate duas vezes na mesma porta”. No entanto, escolher entre um tesouro e um amor e lá fincar uma espada, não me parecia de jeito nenhum uma boa opção.

Como escolher entre duas coisas que parecem tão interligadas e tão certas? O tesouro só estava sendo chamado assim, pois por meio de uma afeição tornou-se algo tão valioso e raro que gostaria de ter para sempre perto de mim, podendo cultivá-lo e estimá-lo todos os dias. E aquele amor tinha a intensidade e profundidade de um amor de Camões “é fogo que arde sem se ver, é a ferida que dói e não se sente”. E por dentro aquilo queimava, ardia, doía, mas creio no instante em que nos tornamos amantes, passamos a ser masoquistas e ansiamos viver essa dor com o desejo que a cura nunca nos separe.

Eu poderia roubar colocando aquele dois de Espadas na manga e assim não sujaria nenhuma das canastras, entretanto, passar por um obstáculo é melhor e mais adequado do que simplesmente derrubá-lo, além do que, prezo minha honestidade e seriedade. Mantendo a integridade, poderia abandonar a mesa gritando, chorando, alegando não estar me sentindo bem, ou qualquer desculpa esfarrapada. Todavia, não é, nunca foi, e arrisco-me a dizer que nunca será do meu feitio desistir das coisas, jogar tudo para cima. Eu precisava tomar uma decisão.

As coisas complicavam-se cada vez mais quando eu procurava separar os dois casos em prós e contras e percebia que ambos estavam recheados pelas duas qualidades. Parecia-me muito injusto ter que optar por qualquer um dos vermelhos. O nível de adrenalina no sangue subia cada vez mais, enquanto era indagada para tomar logo a decisão que fosse e realizar minha jogada, afinal o jogo precisava continuar e eu o estava empacando. 

E foi então que eu percebi que era exatamente daquilo que eu precisava, pelo menos por alguns instantes, permanecer ali parada, estagnada. Desliguei os meus ouvidos, fechei as cortinas-pálpebras dos olhos, parei de falar. Eu reconhecia que precisava tomar uma decisão e reconhecia que a cartada decisiva estava em minhas mãos, contudo, tinha uma perigosa certeza que enquanto o mundo girava e eu permanecia inerte, nenhum balão voaria e nenhum coração pararia de bater.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A espera de uma espera


Sabe aquela história de que quando a gente menos espera as coisas acontecem? Se é verdade ou não, eu não sei. O fato é que eu não estava esperando, quando aconteceu. De longe eu podia ver aqueles olhos me fitando, sentir aquele perfume de insegurança, saborear o gosto da incerteza. Então, eu pude perceber que algo iria acontecer.

Ela caminhou em minha direção e me disse com sua voz suave "oi". Logo já sabia o que ela estava realmente me dizendo: "eu vou entrar na sua vida agora, sem te pedir permissão, mudar seus planos, te fazer repensar suas prioridades e, talvez, partir". Então, respondi "oi", como quem diz, "acho que não tenho nenhuma outra opção, a porta está fechada, espero que você tenha as chaves".

O fato é que a porta estava realmente trancada. Acho que a última vez que abriram, levaram as chaves. Também fizeram questão de trancar todas as janelas e fazer certeza que ninguém mais entraria ali. Eu queria que alguém viesse, e, com chaves mágicas abrisse tudo e me invadisse. Invadisse até que eu estivesse destrancado novamente.

Por diversas vezes quis perguntá-la se possuía as chaves. Tinha medo. Se ela não as possuísse, eu estaria preso no meu isolamento para todo o sempre. Eu queria que ela tivesse as chaves. Queria que ela abrisse as portas e fizesse do meu peito o seu lar. Mas tinha medo.

Percebi, então, que quem havia trancado todas as possíveis entradas, havia sido eu - por medo. Medo de que alguém entrasse novamente e destruísse os móveis, levasse as jóias, quebrasse as louças. Tudo que existia ali dentro era frágil. Queria pegar aquelas faixas de mudança que dizem "cuidado, frágil" e envolver-me nela dos pés à cabeça. Assim, aqueles que me vissem de longe, saberiam que sou facilmente destrutível. 

Não achei esta faixa em lugar algum, sendo assim, tranquei-me em mim mesmo. Ergui minha barreira. "Nunca mais sofrerei de novo", eu pensava. Eu estava protegido, porque tinha medo. Mas aquela moça... olhos cor de mel, cabelos castanhos, olhar fixo... eu queria que ela possuísse as chaves.

Um tempo se passou e eu continuava esperando. Esperando que ela chegasse em casa um dia e me dissesse "amor, o chaveiro da esquina me entregou umas chaves, mas não sei para que servem". Então, eu revelaria para ela: "elas servem para que você entre, para que você faça parte, para que você me inteire". Entretanto, cada dia que passava, mais certeza eu tinha de que as chaves estavam perdidas, que não existia saída pra mim.

Um dia resolvi procurar. Revirei todos os meus cantos. Queria encontrar a passagem para a minha liberdade. Livrar-me de mim. Fugir comigo mesmo para bem longe. Derrubar aquele muro que eu mesmo construí. E quanto mais eu procurava, mais perdido eu ficava. "Quando a gente menos espera, as coisas acontecem..."

Naquela noite, depois do jantar, ela me disse que estava indo embora. Mostrou-me as malas prontas. Eu não conseguia compreender o porque; "Não posso ficar aqui para sempre, esperando que você pare de esperar". Então, eu pude entender. As chaves sempre estiveram na porta. Ela abriu, entrou, acomodou-se, fez uma faxina, organizou os móveis... aí foi embora. Foi embora porque não fui capaz de olhar pra mim. Não fui capaz de olhar pra dentro e perceber que já estava na hora de parar de esperar...

Entendi que não havia nada que eu pudesse fazer para que ela resolvesse ficar na nossa casa. Então, ela me olhou fixamente, me abraçou, pegou minhas mãos e depositou seu chaveiro. "Acho que eu não preciso mais das chaves da sua casa... adeus". E saiu porta afora, deixando as chaves em minhas mãos.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Infindável


Ela fechou os olhos e chorou. Olhar para dentro revelou que ele ainda estava ali. As lembranças físicas foram todas apagadas, queimadas, desfeitas. Não restava nem sequer uma foto à ser olhada, um presente que a fitasse, um perfume a se sentir. Seria necessário? Não restava mais nada. Apenas a saudade. Poderia apagar todos os vestígios daquele tempo que se foi. E assim foi feito. Mas não se apaga uma lembrança. Foi então que ela descobriu o significado da palavra saudade... Saudade não significa querer fazer o relógio rodar ao contrário, desejar reviver o passado. Saudade é apenas a prova infindável de que em algum momento, ele esteve por ali. 

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