domingo, 28 de abril de 2013

Pra você gostar de mim

Hoje eu fiz escova, você reparou? Aliás, cortei o meu cabelo semana passada, dizem que você prefere cabelos curtinhos do que aquele - quase crente - que eu costumava ter. Tenho acordado uma hora mais cedo todos os dias para poder escolher a roupa perfeita e fazer uma maquiagem que ressalte meus olhos cor de mel. Fiz um tratamento para olheiras, que parece não adiantar, já que durmo tarde todos os dias pensando em você.

Ontem eu passei pela porta da sua sala várias vezes seguidas para poder te ver de longe, acho que você nem reparou. Comprei o livro que você estava querendo ler, mas ainda não tomei coragem para te dar. Foi difícil achar, sabia? Procurei em várias livrarias até encontrar. Quando olhei ele na estante senti um frio na barriga. Poderia ser ele uma passagem para você gostar de mim?

Tenho tentado descobrir as coisas que você mais gosta. Já estou sabendo que você foi no show da minha banda preferida e que leu o livro que vive na minha cabeceira. Queria te chamar para assistir aquele filme que você havia comentado que estrearia mês que vem, mas fiquei com medo de você dizer não. Até imaginei o jeito que pegaria na sua mão durante o escurinho do cinema e a forma como você me beijaria.

Entrei na academia há algum tempo, você percebeu que já perdi uns quilinhos? Estou tentando entrar em forma. Comprei diversas lingeries para, quando chegar o momento, você não tenha que ver minhas calcinhas velhas, furadas ou de vovó. Mudei o caminho que faço para ir pra casa. Ando um pouco mais para poder pegar o mesmo ônibus que você. Mesmo assim você não me dá mais do que um sorriso e um "boa tarde".

Sabia que tenho ido nos bares que você frequenta pra ver se te acho? Não sei o que acontece, mas parece que você nunca está aonde eu estou. Outro dia cheguei a te ver em uma mesa, mas você estava com umas mulheres bonitas e fiquei receosa de ir te cumprimentar. E se alguma delas fosse sua namorada? Não queria correr esse risco de te perder antes mesmo de te conseguir.

Eu tenho feito de tudo para você me notar. Você ainda não percebeu? Esgotaram-se minhas ideias e você ainda parece tão distante. Já mudei minha aparência e meus hábitos. E agora? O que mais que posso fazer? Por favor, me diz, o que eu faço pra você gostar de mim?

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Doce adeus

Depois de anos juntos, chegou o dia que nenhum dos dois podia imaginar que chegaria. Sabiam que brigas existiam, que casais se separavam e que isso podia acabar lhes acontecendo. O tempo passava e as brigas não vinham, o amor permanecia, estava tudo bem. Porém, um dia, em um sobressalto, perceberam que bem não era ótimo e que a relação aparentava mais estar no fim do que no início.. e o meio? 

Será que é preciso um bom motivo para se separar? Não houve traição, nenhuma briga fatídica, ninguém conheceu outra pessoa... é possível terminar um relacionamento sem motivo aparente? Entretanto, falta de disparo no coração parecia motivo suficiente. Ausência de frio na barriga ou ansiedade por encontro.

Os amigos expuseram como achavam ridículo terminarem por isso. "A paixão sempre acaba". A mãe dela ressaltava como era uma atitude infantil e que os dois precisavam encarar a vida adulta. "Vocês tem outras responsabilidades, não há tempo para seguir amando como se ainda fossem jovens e tivessem todo o tempo do mundo".

Sempre tiveram um bom diálogo e foi comum acordo de que as coisas não poderiam continuar assim. Não era rotina, não adiantaria mudar os hábitos. A solução mais adequada foi a de esvaziar o apartamento e seguir cada um o seu caminho. "Quem sabe um dia a gente não se reencontra?", ela dizia com lágrimas nos olhos. Foi assim que cada um procurou um novo lugar para ficar, resolveram as coisas práticas e entregaram as chaves.

- Brindamos?
- Ao que?
- A nós.
- Isto é algum tipo de brincadeira?
- Não... me desculpe se te ofendo. Achei que tínhamos motivos para brindar.
- Nós acabamos de esvaziar os armários, entregar as chaves do apartamento e optar pelo fim... você quer brindar ao que? Ao fato de ter se livrado de mim para sempre?
- De maneira alguma, não foi isso que eu quis dizer. Como propus antes, quero brindar a nós dois. A nossa viagem para Minas, ao pôr-do-sol na lagoa em plena quarta-feira, aos beijos cinematográficos na chuva, ao nosso café preferido...
- Por que você está fazendo isso?
- Ao abraço acolhedor quando o mundo desabou sobre mim, aos jantares chiques e os lanches em fastfoods, aos cafés da manhã na cama, ao sexo de reconciliação, as poesias que você me fez...
- Ao nosso final de semana em Arraial?
- Sim, os em Petrópolis também. E as nossas visitas aos museus, aos cinemas no fim de tarde, aos dias que dançamos juntos até o amanhecer.
- Você não pode esquecer do dia em que conheceu minha família e como deixou todos impressionados com  o seu senso de humor, merece um brinde. E também o dia em que me levou naquela cachoeira de tirar o fôlego, nem de como você me ensinou a dirigir.
- A sua mão que me fez o carinho mais gostoso para adormecer no dia do enterro do meu pai. 
- Ao dia em que me ensinou a tocar minha primeira música ao violão.
- Ao filho que quase tivemos.
- Ao jardim que cultivamos com tanto carinho.
- A sinceridade que preencheu todos os nossos dias juntos.
- Ao companheirismo.
- Aos domingos.
- Ao nosso amor.

Beberam uma garrafa de champanhe, levaram as últimas caixas e amaram-se pela última vez. O sol raiou e acordaram ali, nus, no chão. E, por um breve momento, sentiram-se exatamente como na primeira vez: completos. Aquilo foi exatamente o que precisavam para ter certeza do fim. Era o motivo pelo qual terminavam: ainda acreditavam que o amor poderia ser criança para sempre.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Hoje eu fico com o sim

Eu quero você e não me importa se as coisas estão indo rápido demais, se não era para ser desse jeito. Não me interessa se você está ocupado no momento, se precisa voltar ao trabalho, se está com a cabeça longe ou se você não me incluiu nos seus planos de hoje.

Eu quero você e não me importa se amanhã eu tenho que acordar cedo, ou se você não tem tempo para isso. Não quero saber quem te espera em casa, as responsabilidades que você tem, ou por quem bate o seu coração.

Eu quero você e se a bolsa está em alta, o carro quebrou, as crianças estão na escola, o jantar está te esperando, definitivamente, não me diz respeito. Se está chovendo lá fora, se você manchou sua camisa de café, se o reboque vai passar, eu não quero saber.

Eu quero você e se ele está pensando em mim agora, fazendo planos para o nosso casamento, olhando apartamento, eu não quero pensar. Eu não quero saber se estou usando um anel de noivado que custou os olhos da cara e o amor no coração, se os convites já estão ficando prontos e se eu tenho que experimentar o vestido.

Eu quero você e sei que eles vão ficar decepcionados. O divórcio pode ser traumático; ela vai chorar; as crianças são pequenas demais para entender; custa caro cancelar um casamento; arrumar outra casa; assumir responsabilidades... eu continuo aqui, querendo você.

Eu quero você e vamos nos despir da moral. Esquece a pressão social, os olhares alheios, os pensamentos de outrem, as palavras de todos. Deixemos de lado os pensamentos e vamos sentir. Percebe os sinais que nossos corpos nos dão?

Eu quero você e não me importa as mil coisas que nos dizem não. Eu quero você e sei que você também me quer. Eu quero você e não aguento mais esperar a hora certa. Eu quero você e sinto falta de tudo que ainda não vivemos. Eu quero você e tem que ser agora. Eu quero você e... 

- Eu fico.

sábado, 13 de abril de 2013

Pra dizer a verdade...

Eu menti. Disse que não queria mais; que estava enjoada do seu sorriso; não achava graça das suas piadas; e não me encaixava mais no seu abraço. E quando você me perguntou se era mentira, eu menti de novo. Falei na sua cara que não te queria mais e que era pra você não me procurar. Insisti pra você seguir e frente e esquecer de mim, de nós.

Quando você disse que não conseguia acreditar e chorou, eu senti um nó na garganta e deu vontade de gritar. Mas eu mantive minha postura pra poder te convencer. Era pra você ir embora e não voltar nunca mais. Tive que te deixar esperando na sala enquanto recolhia suas coisas. Se você tivesse visto os meus olhos na hora em que catava suas roupas e nossa foto no porta-retrato me fitava, você teria percebido que era tudo mentira. Como você acreditou quando eu disse que era pra você esperar por que não suportava mais a ideia de te ver no meu quarto?

Eu menti de cara lavada quando vi você entrar no elevador e disse "adeus". E só eu sei o quanto doeu recusar seu abraço e dizer que você não servia mais pra mim. E quando você mandou mensagem dizendo que ainda estava na portaria esperando que eu voltasse atrás, meus olhos sofriam mais do que imaginei a vida inteira. Eu ignorei. 

Só eu sei a dificuldade que foi não correr atrás do seu carro que saiu cantando pneu pela rua. Mais do que te deixar ir, te fazer ir. Doeu. E quando você ligou mais de 30 vezes pro meu celular e eu não atendi. E a cada vez que tocava, era nossa música que entrava em mim e me lembrava que não tinha um pingo de veracidade em nada do que eu dizia e fazia com você.

Eu menti quando você passou por mim com seu novo amor. Menti pra você, pra ela e pra todos. Eu vi sua cara de decepção por não perceber o meu ciúme. E seus amigos me contaram o quanto você sofreu. Eu disse pra eles que não me importava; que não queria saber; que seu sofrimento não me pertencia... não era verdade. Queria te abraçar bem forte e te mostrar que mentia.

Eu menti quando disse que ficaria melhor sem você. É que quando você chegava bem perto, meu coração batia tão forte que parecia que ia sair do peito. E quando você me dava um beijo de despedida, sentia vontade de chorar mesmo sabendo que nos veríamos no dia seguinte. Quando acordávamos de manhã e me via ali completamente nua, completamente sua... sentia medo.

Medo de que acabasse; de que você fosse embora; que me deixasse sem explicação; que nunca mais me dissesse eu te amo. Era desespero o que eu sentia quando notava que não podia mais controlar. Eu tinha saído de mim. Eu estava me tornando um pouco de você. Eu me sentia bem demais e não queria parar de sentir isso. 

Era só você que sabia tudo da minha vida. Mais ninguém conheceu todos os meus lados. Nunca havia permitido que ninguém cuidasse de mim antes. Com você eu conheci o meu lado fraco. Convivia todos os dias com a certeza de que a vida não seria mais a mesma depois que você passasse. Como eu poderia lidar com você indo embora?

Então, menti. Menti para mim mesma. Adiantei o que aconteceria um dia. Controlei enquanto ainda podia. Mandei você embora para nunca te ver indo por vontade própria. Pedi pra que você esquecesse de nós, pois eu não conseguiria fazê-lo nem se tentasse a vida inteira. 

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