domingo, 30 de setembro de 2012

Silêncio

Quando eu não tiver mais o que falar, te darei o meu silêncio. Eu te peço, por favor, contenha-se com ele. Nem só de palavras vive o homem. Há muito mais nas entrelinhas, do que nas linhas de fato. Não é porque faltam-me palavras, que não tenho o que dizer. Às vezes, meu olhar fala mais. Por outras, podes saber o que penso, ouvindo, apenas, as batidas do meu coração.

Quando eu não tiver mais o que falar, ouça. Ouça com um pouco mais de atenção as palavras que não me saem pela boca, mas latejam em minha mente e apertam o meu peito. A ausência de sons audíveis e compreensíveis não é a indiferença.

Quando eu não tiver mais o que falar, perceba. Perceba que me calo, porque me importo. Não quero que ouças palavras vazias. Não quero definir e reduzir a plenitude das coisas que se passam dentro de mim. Não quero limitar essa mistura de sensações, sentimentos e pensamentos a meras palavras.

Quando eu não tiver mais o que falar, fique em silêncio comigo. Acompanha-me, toca-me, una-se a mim. Apenas sinta. Sinta o que penso, o que sinto, o que quero. Seja um pouco de mim.

sábado, 29 de setembro de 2012

Ama-te

A todos aqueles que passam a vida inteira procurando por um grande amor, digo, ama-te. Desiste de procurar nos outros alguém como você e abraça a ti mesmo. Aprecia tudo aquilo que só quem te conhece mais pode te dar. Alegra-te pela tua própria companhia. Encanta-te com teu sorriso. Agrade teu verdadeiro e eterno companheiro. Há de se parar de procurar no exterior tudo que só se pode encontrar dentro de si mesmo. Fique só, mas fique consigo. O amor ao outro só poderá ocorrer, de fato, quando o amor próprio for pleno.  Respire teu ar, sacie teu desejo, precise de ti. Só assim, poderás amar plenamente o outro como ele é.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Resgatar

Era tão bonito. Era tão certo. Fazia bem. Alegrava o dia. Completava a noite. Ai, acabou. Ai, virou lembrança. Ai, virou uma história distante que quase não é lembrada. Acho injusto que os grandes amores passem e virem apenas uma pequena recordação. As histórias de amor deveriam ser lembradas todos os dias.

Você ainda se lembra quando eu e você éramos um só? Quando vivíamos em prol de um sorriso? Daquele tempo, remoto, eu sei, em que nos amávamos a noite inteira sem nem perceber que o dia amanhecia? Confesso que eu quase não me recordo mais.

Será que as únicas histórias de amor memoráveis são aquelas, como Romeu e Julieta, em que há uma tragédia no final? E se o final for, simplesmente, leve como o amor? Se não for arrebatador como uma paixão, como um romance Shakespeariano...? Não devemos relembrar com lágrimas nos olhos aquele tempo de felicidade?

Pois bem, quero tirar o dia para dizer ao mundo inteiro que, um dia, nós fomos felizes. E, se eu fechar bem os olhos e ouvir a nossa música, eu ainda sinto aquele gostinho de amor que pairava sobre nós. Eu quero que esse e que todos os amores que, um dia, foram reais, sejam recordados.

Relembremo-nos dos bons tempos. Não com pesar do fim, sentimento nostálgico ou com saudade. Apenas relembremos. Somente pensemos que um dia existiu. Resgatemos as lembranças mais lindas que restaram de uma época que não mais voltará. E fiquemos felizes por terem acontecido. E contemos aos amigos, aos parentes e, quem sabe, aos novos amantes, como, um dia, nossas vidas se encontraram.

Às vezes a vida parece ser recheada de outras vidas. As pessoas, os lugares, os sentimentos, nascem, vivem e morrem dentro de nós. Depois deixamos essas histórias esquecidas como se não as tivéssemos vivido. De fato, as mudanças são grandes e não há de se viver do passado. Porém, acho importante pensar que éramos nós. Éramos nós que estávamos ali. 

Vivamos, sim, cada novidade. Pensemos, sim, no futuro. Mas, sim, quero que saibas que, vez ou outra, eu me lembro bem que, aquilo, era amor.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sobre o viver

Há de se desiludir
Para assim perceber
Que sonhos nunca são melhores do que a realidade.
Pois, por mais bonitos que possam ser,
Não são reais.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Jardinagem

Um dia, inesperadamente, encontrei uma semente. Andava na rua e aquilo me chamou atenção. Uma semente perdida no meio urbano, ela não parecia pertencer àquele lugar. Não se assemelhava em nada com aquela paisagem fria, apressada e suja das ruas desta metrópole. Por um impulso, resolvi pegá-la.

Pensei no destino que teria aquela semente sozinha em um meio estranho. Certamente ela não sobreviveria. Ela não teria a oportunidade de virar flor, fruta, planta, ou seja lá o que ela pudesse se tornar. Eu sabia que agora ela precisava de carinho; de alguém que se importasse com ela; de alguém que a regasse; de alguém que lhe desse tudo, sem pedir nada em troca.

Passei na floricultura mais perto e comprei tudo que eu iria precisar. Um vaso, terra, adubo, pá, regador... confesso que me empolguei bastante com a ideia de plantar aquela semente. Então, fui para casa e plantei. Fiz todo um ritual, conversei com ela, expus minhas expectativas de que viesse a crescer e florescer um dia, mas deixei bem claro que não era pra ter pressa. Ela tinha o seu próprio tempo. 

Eu pensava todos os dias no que ela poderia se tornar. Imaginava lindas flores, saborosas frutas, vistosas plantas. Porém, dentro de mim, sabia que aquela semente poderia continuar ali na terra, inerte, para sempre. Podia ser também que ela crescesse, mas não criasse raízes, então, não duraria tempo algum. 

Todavia, não me parecia justo cobrar que aquela semente se esforçasse para ser o que não era. Assim, resolvi aceitá-la por ser semente e apenas isso. Reguei-a todos os dias. Conversei com ela todas as noites. Dei todo amor e cuidado que ela poderia precisar e ainda mais. 

E o que ela se tornou? Isto não me parece importante. Pois fizemos companhia uma a outra no presente e não no futuro. Aceitamos aquilo que podíamos dar. Respeitamos o tempo e o espaço de cada uma. Independente de flor, fruta ou planta, nós criamos o amor. E todo amor, começa com uma semente.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Apagão

Acabou a luz. Tudo escuro, tudo em silêncio. Era tarde, o mundo estava quieto. Como se não bastasse a quietude, ele ficou escuro. Naquele quarto estava ela acompanhada somente de sua insônia. Há dias que não conseguia dormir e não sabia bem o porquê. Parecia ansiedade, mas sem motivo aparente. Enquanto lia e ouvia suas músicas, a luz apagou-se.

A raiva tomou conta de seu corpo. O que fazer quando não se tem sono, nem luz, nem som? Então, parou. Parou e ouviu. Começou a escutar o som do caminhão de lixo que passava na rua. Ouvia pessoas que passavam de longe e falavam algo incompreensível tamanha distância. Apreciou os sons.

Então, parou. Parou e sentiu. Sentiu o ritmo do seu coração. Percebeu a sua respiração. Sentiu cada parte de seu corpo. Podia sentir um relaxamento que começava na cabeça e ia descendo até os pés. Seu corpo ficava leve cada vez que inspirava o ar e soltava pela boca.

Então, parou. Parou e percebeu. Percebeu que no silêncio, no escuro e com o corpo relaxado, ela podia se perceber. Podia dar conta de seus pensamentos. Ouvir o que dizia seu corpo, e, também sua mente.  Podia sentir a si própria e, assim, compreender-se. 

A luz voltou. Junto com ela, o som voltou a tocar. Olhou ao seu redor e observou todas as cores. Então, parou. Parou e dormiu.

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