quarta-feira, 9 de abril de 2014

Pássaro

Você passa assim, de mansinho, como brisa, tentando não se fazer notar. Segue suave nesse ritmo devagar, mas nada-parando, que é para não se apressar e não aparecer demais. É que ventania forte anuncia tempestade e, mesmo os mais distraídos, notam as árvores balançando e as folhas voando pela rua. Ventania dá medo. Sente medo de ser percebido passando e dá falta de desculpas para justificar a passagem. Você só quer ir, sozinho, sem pesar. Sua leveza venta baixinho; seus pés te prendem no instante, no medo, naquela tempestade que ainda não passou. E será que passa?

Você passa. Passa e movimenta. Os olhos fechados e desapercebidos do muito, sentem o carinho que faz seu movimento nas orelhas, pescoço e mãos. Seu sopro é doce e porta sutileza. Mas o movimento por entre os outros parece, por vezes, não combinar com a relação que você traça com o chão. É que vai e fica. E a vontade de ir se cala diante dos pés estagnados e ombros carregados que não se deixam voar.

Voa e vai. 
A chuva já passou e lavou o caminho. 
Deixe que o medo escoe e o corpo se faça outro. 

3 comentários:

Nathalia disse...

Esse texto tem uma leveza tão grande que dá gosto ler até o final :) muito bom!

Camilla disse...

Concordo com a Nath.
De alguma forma, dá pra sentir o voo do passaro.

PAULO TAMBURRO. disse...

HELENA,

sou seu mais novo seguidor.

E se faça outro num corpo escorrido de medos perdidos e ânsias de sonhar renovadas.

Ir e vir, movimentos constantes que teimam em ser recorrentes!

E quantas vezes não se fantasiam de nossas próprias almas, pintadas de um calidoscópio de tintas saturadas querendo enganar o cinza que possa habitar em nós.

Gostei do que li e sempre que gosto continuo, assim como me confundi um pouco também, em certo momento da leitura, mas só lhe agradeço pois, sempre que eu me sinto confuso é que me encontro verdadeiramente.

Talvez seja, esta a forma de espantar a mesmice dos pratos feitos e soluções dos velhos almanaques da vida.

Talvez dos meus blogues , você goste especialmente de um em particular, o "Falando Sério".

Um abração carioca e voltarei sempre. É uma ameaça! (rs)

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