quarta-feira, 24 de abril de 2013

Doce adeus

Depois de anos juntos, chegou o dia que nenhum dos dois podia imaginar que chegaria. Sabiam que brigas existiam, que casais se separavam e que isso podia acabar lhes acontecendo. O tempo passava e as brigas não vinham, o amor permanecia, estava tudo bem. Porém, um dia, em um sobressalto, perceberam que bem não era ótimo e que a relação aparentava mais estar no fim do que no início.. e o meio? 

Será que é preciso um bom motivo para se separar? Não houve traição, nenhuma briga fatídica, ninguém conheceu outra pessoa... é possível terminar um relacionamento sem motivo aparente? Entretanto, falta de disparo no coração parecia motivo suficiente. Ausência de frio na barriga ou ansiedade por encontro.

Os amigos expuseram como achavam ridículo terminarem por isso. "A paixão sempre acaba". A mãe dela ressaltava como era uma atitude infantil e que os dois precisavam encarar a vida adulta. "Vocês tem outras responsabilidades, não há tempo para seguir amando como se ainda fossem jovens e tivessem todo o tempo do mundo".

Sempre tiveram um bom diálogo e foi comum acordo de que as coisas não poderiam continuar assim. Não era rotina, não adiantaria mudar os hábitos. A solução mais adequada foi a de esvaziar o apartamento e seguir cada um o seu caminho. "Quem sabe um dia a gente não se reencontra?", ela dizia com lágrimas nos olhos. Foi assim que cada um procurou um novo lugar para ficar, resolveram as coisas práticas e entregaram as chaves.

- Brindamos?
- Ao que?
- A nós.
- Isto é algum tipo de brincadeira?
- Não... me desculpe se te ofendo. Achei que tínhamos motivos para brindar.
- Nós acabamos de esvaziar os armários, entregar as chaves do apartamento e optar pelo fim... você quer brindar ao que? Ao fato de ter se livrado de mim para sempre?
- De maneira alguma, não foi isso que eu quis dizer. Como propus antes, quero brindar a nós dois. A nossa viagem para Minas, ao pôr-do-sol na lagoa em plena quarta-feira, aos beijos cinematográficos na chuva, ao nosso café preferido...
- Por que você está fazendo isso?
- Ao abraço acolhedor quando o mundo desabou sobre mim, aos jantares chiques e os lanches em fastfoods, aos cafés da manhã na cama, ao sexo de reconciliação, as poesias que você me fez...
- Ao nosso final de semana em Arraial?
- Sim, os em Petrópolis também. E as nossas visitas aos museus, aos cinemas no fim de tarde, aos dias que dançamos juntos até o amanhecer.
- Você não pode esquecer do dia em que conheceu minha família e como deixou todos impressionados com  o seu senso de humor, merece um brinde. E também o dia em que me levou naquela cachoeira de tirar o fôlego, nem de como você me ensinou a dirigir.
- A sua mão que me fez o carinho mais gostoso para adormecer no dia do enterro do meu pai. 
- Ao dia em que me ensinou a tocar minha primeira música ao violão.
- Ao filho que quase tivemos.
- Ao jardim que cultivamos com tanto carinho.
- A sinceridade que preencheu todos os nossos dias juntos.
- Ao companheirismo.
- Aos domingos.
- Ao nosso amor.

Beberam uma garrafa de champanhe, levaram as últimas caixas e amaram-se pela última vez. O sol raiou e acordaram ali, nus, no chão. E, por um breve momento, sentiram-se exatamente como na primeira vez: completos. Aquilo foi exatamente o que precisavam para ter certeza do fim. Era o motivo pelo qual terminavam: ainda acreditavam que o amor poderia ser criança para sempre.

2 comentários:

Camilla disse...

Ai, que lindo! =D

Nathália Guerardt disse...

"falta de disparo no coração parecia motivo suficiente"

Super curti esse texto :)

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